23 janeiro, 2007

Santo Homem

País de dimensões continentais e potencialidades naturais invejáveis até pelas grandes potencias mundiais, nosso Brasil propugnou um fabuloso crescimento a passos de cágado nos últimos quatro anos de nossa história, chegando a superar o expressivo Haiti dentre os nossos irmãos desenvolvidos... desperdiçamos o BOOM desenvolvimentista de uma conjuntura internacional amplamente favorável desde a sua entrada para ficarmos ‘encagados’ num profundo mar de lama. Será esta lama conseqüência da falta de saneamento básico que nosso Estado esqueceu de implementar? Ou será que as chuvas mostraram uma lama que esqueceram de limpar?

Nosso chefe maior, na ocasião da candidatura a seu primeiro mandato tornou-se protagonista de um verdadeiro reboliço em todo mercado nacional e mundial fazendo disparar o dólar, despencar a bolsa, bater picos o risco Brasil, a ponto de verdadeiramente comprometer o término do mandato de seu antecessor, que somatizava intensas crises mundiais, como era o caso da Argentina. Quem crescia verdadeiramente à época era a China. O mundo temia as surpresas de quem se dizia um futuro estadista que revolucionaria o modelo econômico até então adotado, que na visão deste não passava de um governo feitor das vontades do FMI e de banqueiros de toda espécie. Temia-se até um reprovável calote de nossas dívidas. Pois bem, este mesmo, que muitos temiam, e que fazia eclodir no povo um sentimento de renovação e de verdadeiras conquistas sociais, terminou seu primeiro mandato com políticas assistencialistas populistas eleitoreiras utilizadas como slogan de campanha de reeleição, que serviram para comprar os votos de uma população de maioria esmagadora miserável e facilmente corrompível por um prato de feijão, já que dominados pela fome e pelo sentimento de que corromper e ser corrompido é normal, usual e parte do jogo e que ao final pode transformar-se numa suculenta pizza calabresa.

Não paramos por aí, nossos banqueiros antes aterrorizados por discursos eloqüentes do opositor terminaram 2006 com os maiores lucros de suas histórias, terminaram como seus maiores cabos eleitorais, o FMI nunca esteve tão de bem com o Brasil que adiantou parcelas de sua dívida. Foi realmente um governo que triscou a perfeição, embora sejamos sufocados com nossa carga tributária dando-nos por vezes a impressão de que pagamos para trabalhar, na realidade temos que dar graças a Deus, pois ter emprego hoje é uma dádiva divina. Graças a sua esmola angariada as custas de nosso desenvolvimento, já que advém das receitas tributárias que oneram toda cadeia produtiva, tornando nossos produtos caros para o consumidor final e diminuindo a margem de lucro dos que investem em nossa economia, aumentando sobremaneira desemprego, nosso chefe de estado conseguiu ser reeleito. VIVA O BOLSA FAMÍLIA!!!!!

Pensando direitinho, para que emprego, se já se tem o que comer com o bolsa família? Agora falta pouco, é só dar o bolsa família a quem realmente precisa, um mero detalhe, mas sejamos justos, sua função precípua foi alcançada, tivemos tantos bolsas famílias quantos necessários para reeleição...

Hoje encontramos um panorama realmente diferente, incontestavelmente por méritos exclusivos de nosso governante maior. Por exemplo: um pronunciamento de nosso emérito líder não provoca mais emoções em bolsas de valores, não faz mais o dólar subir e não altera o nosso risco país, tiremos nossas próprias conclusões...

19 janeiro, 2007

Impiedosa história

Se formos analisar o preço da imoralidade em um país em que Vale Tudo está sempre sendo reprisado no Vale a Pena Ver de Novo, alcançando índices de aceitação dignos de grandes produções, chegaremos a conclusão que o imoral compensa em seu custo-benefício, e encontra uma base muito sólida que o legitima, nosso povo.

Pego-me por vezes pensando, se é tão só a ignorância no seu sentido lato, a causadora dessa inversão de valores. Quando jogo-me por minhas viagens de introspecção chego ao despautério de duvidar da eficácia de nossa democracia, ou melhor, pergunto-me a quem serve certos instrumentos democráticos que são nobres em sua essência e essenciais para construção de uma nação digna e soberana, mas que são utilizados de maneira a comprometer os próprios beneficiados numa espécie de autolesão programada pela história? Vamos analisar...

É fato, que temos um povo que foi historicamente despreparado para cidadania plena, e que a proteção à dignidade da pessoa humana, conduzida hoje a preceito constitucional, manter-se-á por muito tempo como norma programática, se olharmos o povo num contexto global. È fato também, que um dos cernes de uma democracia cidadã está no direito ao voto, voto direto, secreto e livre para todos, sem distinção de qualquer espécie, conquista essa, que só passamos a usufruir a pouco, mas que nos tem levado a uma espécie de autodestruição, já que parte de nós não foi preparada para ter o necessário discernimento de uma escolha.

Pensar em restringir o acesso de parte de nós ao direito de votar, seria um retrocesso imperdoável de uma conquista. Exigir cultura de um povo miserável, preparado para o despreparo, tão já não poderemos nem ao menos imaginar, já que é uma empreitada sem fim, já de início tardio. Seria de uma intolerância ditatorial retirar o direito de escolha conquistado de quem historicamente foi massacrado pela falta de oportunidades, pela falta de escolha.

Penso, porém, ser de viabilidade ainda democrática censurar a entrada e a manutenção de alguns, ‘na mamata do paraíso’. Votar todos poderiam por óbvio, mas para ser votado exigiríamos preparo. Seriam nossos pretensos representantes aferidos por provas de conhecimentos como um primeiro requisito para lançar sua candidatura. Após analisar-se-ia sua conduta, se ilibada ganharia direito de candidatar-se. Eleito pelo voto popular haveria uma profunda fiscalização não apenas de seus pares, experiência esta que não se basta em si mesma, como podemos asseverar pelos últimos episódios esculpidos em nossa história. Necessário seria uma real fiscalização, tendo como base a total transparência de cada ato público e de cada ato de sua vida privada no aspecto financeiro, já que estamos falando de homens públicos que lidam e vivem do erário público. Mas as providências não parariam por aí, haveria uma consulta popular de confirmação no meio de cada legislatura, ocasião em que os eleitores confirmariam ou não suas escolhas dando-lhes a oportunidade de caça aos traidores operantes e inoperantes.

È só uma semente de moralidade que jogo ao léu de forma embrutecida, não obstante a certeza de sua utopia, tendo em vista a falta de vontade política de se moralizar uma estrutura corrompida e legitimada por nós, onde quem ganha com isso é justamente aquele que legitimamente tem o poder de mudar...

Para findar, deixo algo a se pensar: nos morros temos que seguir o que manda o tráfico para nos mantermos incólumes, e sofrerão as conseqüências aqueles que desrespeitarem a lei do silêncio, qualquer semelhança desta obra com a realidade tratar-se-á de mera coincidência...

Tristeza não tem fim...

Alguns clichês caíram no domínio público e tornaram-se referências com explicação do caótico. Clichês como: para fazer sucesso; seja muito bom ou muito ruim ou temos que mostrar o que o público quer assistir...porquê é assim? A quem interessa que assim permaneça?

Ligamos nossas TVs e rádios e nos deparamos com nossas latrinas e agradecemos por serem inodoras, salvo é claro raríssimas exceções. Temos entretenimentos da pior qualidade, programações culturais quase nenhuma e índices de audiência incrível na proporção da quantidade defecada.

Na música, por exemplo, querem colocar os gêneros mais esdrúxulos como símbolos de uma cultura regional. O Norte exporta o calipso, o Nordeste vive basicamente do axé, o Rio encanta o país com o funk. Tati Quebra-Barraco, MC Leozinho hoje são sucessos nacionais e paradigmas de uma juventude sem referências construtivas, espelhos de um nada cultural que prolifera entre os becos antes agraciados por uma tal bossa nova. A nossa MPB que já foi, e ainda é, ao menos para os menos “ecléticos”, sinônimo de orgulho e qualidade, a ser exportada para os mercados mais exigentes do mundo, hoje vive de passado, e alguns de seus representantes remanescentes, não prostituídos, se obrigam a sair de seu próprio país atrás de reconhecimento, nos deixando cercados do fétido. Salve os remanescentes e que Deus lhes conceda a vida eterna!

A mídia vende o podre argumentando que é disso que o povo gosta. Trata-nos como acéfalos e nos alimenta de merda. Merda dá ibope, merda vende, acredite! Não estará aí uma das explicações de nossos jornais, nossas maiores fontes de parcas informações, estarem repletos de violência? Não estará aí uma parcela de educação deixada ao léu. Onde está a responsabilidade social da mídia no contexto educação? Entreter é fundamental, mas desde que se entretenha com uma mínima qualidade, com uma mínima responsabilidade. Sinto-me o avesso da censura, mas sou partidário da boa educação. Precisamos de uma verdadeira revolução cultural, onde a regra não seja a inversão de valor, onde não se decrete o fim do culto às bundas, pois são de indiscutível beleza, mas se cultue também o além.

Esse estado de alienação total tem que ter um fim, quem ganha com esse apodrecer cultural tem que começar a perder, para que num futuro, ainda que distante, o povo comece a ganhar!

Passou!?...

Um povo sem memória é um povo sem passado, um povo sem passado é um povo sem futuro. O futuro deve ser escrito com as experiências do passado, sob pena de se ter um futuro ultrapassado. Não seremos jamais uma nação de primeiro mundo enquanto renegarmos nosso passado a meras peças de museu como acontece com os idosos e com nossas memórias eleitorais.

É inegável que isso passa pelo famigerado problema educacional-cultural que adoenta nosso país, como também pela indústria da pouca vergonha que faz o imoral se tornar normal. Tivemos em nosso passado recentes exemplos que bem ilustram o que acabo de mencionar. Parte de nós, a quem Deus deu o dom de enxergar, optou pela cegueira em troca de uma esmola no final do mês; a outra parte quis fazer-se de cego sob o argumento de que está tudo normal, que as coisas assim funcionam; outra parte a estrutura as quer cega e essa mesma estrutura culpa Deus por tal deficiência, e por último há aqueles que enxergam mas se juram cegos até a morte e são esses que ganham nossos votos de feliz ano novo.

Enquanto vivermos num país sem memória e sem moral o futuro estará sempre ultrapassado e o “dom” da profecia poderá ser exercitado com razoável probabilidade de acerto. Se ser vidente assinasse carteira seria a profissão que eu escolheria!

Vamos Legislar?

Um dos misteres de uma democracia participativa é que seus poderes funcionem de forma harmônica e independente na consecução da coisa pública, segundo suas competências constitucionais. Com isso, precipuamente, nosso executivo administra (executa), nosso legislativo legisla e nosso judiciário julga.

Hoje, até aos menos atentos a nossa realidade, é fácil perceber a crise institucional que assola estes poderes, capitaneados pela imoralidade de nosso legislativo, e, é a ele que quero referir-me.

Hoje o emprego dos sonhos de qualquer cidadão brasileiro que tenha por escopo de vida uma imediata aposentadoria milionária, estável, vitalícia e repleta de regalias às custas do erário público, candidata-se a uma vaga em uma das casas do nosso legislativo. Para adentrar neste paraíso, basta não ser analfabeto, embora tenhamos a impressão que por lá possuem maioria, e, convencer, Deus sabe como, um número determinado de pessoas que seu ingresso lhes trará algum tipo de proveito, é a chamada democracia representativa. Lá eles serão nossas vozes e representarão nosso querer. O problema é que quando eles lá estão, o querer deles sofre alteração, abrindo uma certa lacuna entre os nossos e os deles...

Nestas casas a que me refiro, há um conglomerado de partidos políticos que trazem como única ideologia clara, o propósito do “bem comum” e desta convicção política nossos representantes não abrem mão! Possuem uma série de imunidades que garantem seus triunfos, até quando tudo da errado no final dá tudo certo. Ao que me parece, num perfunctório olhar à distante, o que falta a nossa classe política são regras definidas para melhor fatiar o bolo, ou a pizza para quem não for muito chegado à doce, para que ninguém se julgue no direito de pegar a maior fatia e deixar seu companheiro pouco envaidecido, meio esvaziado em sua fatia e achando por bem estragar com o bolo só ficando a pizza.

Parece simples ou mesmo simplória a conclusão que se tira do que vemos no nosso legislativo, esta casa para ser o céu na terra, basta coadunar-se a alguns ensinamentos que Jesus nos deixou quando por aqui esteve, como o sentido de divisão, já que o de multiplicação eles trazem consigo e o de união não agindo como Judas, tudo em prol do bem comum!

Tem Jeito?

Propagar o inútil, o simplório, o medíocre, hoje, é abrir portas para o sucesso, pois é disso que o povo se alimenta, é isso que traz lucro vender. Coisas de acentuado bom gosto e um certo refinamento, que façam esse povo pensar, não vendem, pois é um povo que se acomodou em nada ter e que entende como destino à realidade que a vida os apresentou em seus primeiros suspiros, não tendo forças para escrever uma história de luta e suor, pois é mais fácil reclamar da própria sorte.

A indústria do medíocre encontra-se a pleno vapor, correndo a contento, de acordo com o querer do poder, que não se entusiasmam e em momento nenhum se entusiasmarão em mudar tal realidade. Não há interesse em mudar uma realidade que os favorece, não há interesse em compartilhar lucros, apenas prejuízos. Instruir um povo é localizá-los em suas mediocridades é dar-lhes ferramentas para reivindicar seus direitos que por certo irão se contrapor aos interesses do poder.

Está aí a problemática de nosso sistema educacional, está aí a vontade política de se transformar uma realidade escrita nos conformes de uma aristocracia ditatorial, que faz propagar o conformismo do medíocre como a forma mais segura de se manter no poder uma democracia que em certos pontos não sairá do campo da utopia.

Hoje nos encontramos num ponto de não podermos confiar nem naqueles que por suas histórias de luta os credenciariam para buscar um início de transformação, ainda que apenas no campo da moralidade, dando a impressão que o poder a todos corrompe ou em um pensamento mais pessimista corrompe até com mais facilidade aqueles que não se prepararam para ter o poder, a quem chamamos de companheiros.

Chego a triste conclusão que estamos esmerdalhados por uma maioria criada e acostumada a viver na merda e que dela em um sentido lato-figurado jamais sairemos. É um povo que no máximo de sua rebeldia reclama de sua própria sorte e que não possui em sua esmagadora maioria condições intelectuais e morais para uma macro-transformação, é um povo que ao mesmo tempo em que grita por moralidade não a legitima quando tem nas mãos um instrumento de mudança, é um povo que liga intelectualidade à imoralidade e a ignorância à honestidade, optando na legitimação da ignorância, por entender que semelhante acolhe semelhante, é um povo que precisa aprender a instruir-se para aprender a escolher e aí quiçá avistarmos uma democracia menos hipócrita.