O tempo apaga as rusgas da
estória... De certa forma poder-se-ia arriscar que essa oração traz embutida
uma dada dose de nobreza quando observada de uma forma perfunctória, mas o
engano pode revelar-se categórico assim que se adentrar de maneira mais
entretida em sua dinâmica contextual.
Não é de hoje que tratativas moralmente
odiosas alteram lógicas que se mostravam historicamente irretratáveis. Provas
incontestáveis de ilícitos perpetrados com o dinheiro público restam reveladas
a sociedade e a duração não razoável dos processos faz apagar da memória da
sociedade a ânsia por justiça e facilitar os conluios que trilham os caminhos
da impunidade. Sistematicamente temos notícias via imprensa de processos de
membros de poder vergonhosamente arquivados por ausência de provas, prática
repugnante, que via de regra, invade as searas das três esferas legítimas de
poder, e dessas, muitas vezes, com a indevida participação oculta de algum dos
poderes paralelos de Estado.
Erenice Guerra, ex-ministra,
sucessora de Dilma Rousseff na Casa Civil teve seu processo arquivado por falta
de provas após haver sido afastada em março de 2010 por contundentes denúncias de
tráfico de influências e lobby envolvendo seu filho, Israel Guerra. Provas
incontestáveis demonstravam que Israel Guerra utilizava do prestígio da mãe, como quando ajudou a empresa aérea MTA a renovar um contrato de 850 milhões de reais com
os correios, como também uma empresa fundo de quintal que teria pleiteado 9
bilhões junto ao BNDES para implantar um projeto de energia eólica no Nordeste,
ocasião que Israel receberia 5% de comissão. Erenice tivera sido a escolhida para ser a
condutora do PAC e administradora de todo dinheiro público para lá desviado...
Antônio Palocci foi outro. Com patrimônio
declarado e não declarado incompatível com seus ganhos e acusado pelo crime de
lavagem de dinheiro obteve a benesse de inexplicavelmente ver seu processo
arquivado por falta de provas a pedido do MP de São Paulo, que não deu maiores
explicações, estranhamente alegando segredo de justiça. Palocci pagava um
aluguel de um imóvel na exorbitante monta de 15 mil reais ao seu sócio acusado de ser
laranja do esquema de lavagem.
Questiono: Como inquéritos como esses, entre
outros tantos mais, restam por arquivados sem que se publiquem as justificativas,
os fundamentos de dados arquivamentos? A sociedade tem a notícia do crime, obtém
detalhes via imprensa e anos após simplesmente se arquiva, sem que a sociedade possa cumprir
seu inquestionável papel de fiscal de um Estado constitucional e democrático.
Causa revolta na sociedade
interessada e antenada aos acontecimentos, verdadeira fiscal dos deveres de
probidade dos membros de poder ao lado da imprensa, saber que esses verdadeiros
desvios de conduta são na realidade uma mínima gota da “merda” que acaba por
escorrer e termina detectada pela imprensa, claro, por aquela que ainda
sustenta seu legítimo e destemido papel de oposição. A “merda” com toda sua
sustância e odor insuportável em sua quase total capacidade resta encoberta por
escatológicas tratativas que negociam sua não disseminação para sociedade. É nesse
terreno que passeiam livremente os mais diversos crimes contra o erário,
subsidiados por dinheiro público que adquirem onerosamente o “direito” ao
silêncio. Quando se apercebe que as
gotas que vazaram são limpas sem deixarem vestígios, e vemos que esses
impropérios contam com a dolorosa participação de parcela do MP e da justiça, a
sensação de impunidade arvora-se por nossas narinas para não mais sair.
Às vésperas do julgamento mais
importante de nossa estória, que aferirá as dignidades da maior instância de
nossa justiça, o mensalão segundo olhar dos ministros do Supremo, o sentimento
de incredulidade é legítimo e pautado em fatos. Lembra-se, que dos onze
ministros, sete foram indicados pelo PT, alguns com uma estória que se mistura a
própria história do PT, como é a do ministro Dias Toffoli, que ainda pode vir a
declarar-se suspeito e desobedecer às ordens do PT de Lula. Sabe-se ainda, que
o STF é por essência o tribunal mais político de nosso judiciário, sendo
inelutável que necessitamos de um tribunal mais legalista, que julgue de acordo
com as provas, menos influenciável por forças ocultas, que de ocultas não tem
nada, conforme inclusive a imprensa já denunciou por ocasião do encontro entre
Lula e Gilmar Mendes... A favor da sociedade fica a parcela não corrompida
dessa e a imprensa verdadeiramente livre, que atua em seu firme e legítimo
papel de oposição ao sistema, avolumando-se um sem número de atentos olhos
repletos de sangue a espera de justiça.
A contagem regressiva já começou, o tempo já se incumbiu de fazer prescrever alguns crimes, que restarão impunes, condenações se verão, resta saber se de todo o esquema, excetuando-se a do
blindado mandante que nem denunciado foi, ou de apenas de “bois de piranha”, de soldadinhos de chumbo... O mensalão após sete anos ainda não saiu da memória da sociedade, por mais que tenham se esforçado para isso... Estamos de olho e com sangue nos olhos!
Sem mais.