08 março, 2012

REFLEXÃO. AUTORREFLEXÃO. NEGAÇÃO A AUTORREFLEXÃO.

Muito bem, os meios de comunicação em geral, no dia de ontem, noticiaram a respeito de uma pesquisa realizada em 2011 em uma parceria da FGV e o Instituto Gallup, feita anualmente, desta vez entre os habitantes de 158 países. A pesquisa buscou saber o índice de felicidade das diversas sociedades pesquisadas no presente e em uma perspectiva para os próximos 5 (cinco) anos. E o resultado acompanha a tendência das últimas pesquisas e coloca o povo brasileiro sentindo-se como o povo mais feliz do mundo hoje e para próximos 5 (cinco) anos, segundo os entrevistados...
Confesso, que não tive acesso a referida pesquisa, tão pouco aos modelos adotados como basilamento de sua feitura, mas...
De antemão, inegável a respeitabilidade construída ao longo dos anos pela FGV, não podendo no entanto afirmar com a mesma veemência ao que tange ao Instituto Gallup, mas em considerando-a fidedigna, seu resultado muito me preocupa, até porque ficamos à frente de países que contam com um PIB per capto invejável, por isso este resultado, somado a algumas premissas que abordarei, poderá vir a convencer o leitor que a conclusão que se perfaz, nestes termos quase paradisíacos da terra brasilis, não são verdades baseadas em uma lógica minimamente racional...
O Brasil é um país de população extremamente numerosa. Apenas levando-se em conta o estado de São Paulo, esse tem população mais numerosa que muitos países do mundo pesquisados, o que inexoravelmente faz o Brasil gerar um PIB inexoravelmente mais elevado, que chega a colocar-nos hoje como a 6ª economia do mundo, pareando com a França em crise e já à frente do Reino Unido...
Leve-se em conta ainda a supervalorização do real neste último ano, as sempre altíssimas taxas de juros praticadas no país angariadora de um perigoso capital especulativo e a inflação sempre em estado de atenção, como fatores à demonstrar ser o Brasil um dos eternos protagonistas de um filme de suspense de final incerto... Assevere-se ainda, ser o Brasil um país em eterna formação (uma promessa que não vinga), com uma sociedade em sua ampla maioria destituída de educação e saúde dignas e de grande parte dos serviços públicos tidos como essenciais a um melhor IDH sonegados. Hoje o Brasil tem apenas 10% de sua população ativa portadora de diploma universitário, o que é considerado um índice muito baixo, deixando-nos bem atrás das emergentes Índia, Rússia e China...
Hoje, o que fundamentalmente traria uma real dimensão de nossa situação seria a mensuração comparativa de nosso PIB per capto com relação as sociedades do mundo. Como exemplo, diria, que o PIB per capto brasileiro é 25% do Norte-Americano, apesar de toda a crise do morador de cima... Nossa desigualdade social continua entre as dez maiores do mundo, com uma maioria que sobrevive com um salário mínimo insuficiente para gerar condições básicas de desenvolvimento pessoal-familiar. Temos em contrapartida o empresário que figura entre os 10 homens mais ricos do mundo...
Ainda hoje, o Brasil "procura" pela dignidade do povo que o representa, ainda hoje, o Brasil mata os seus por suas prioridades equivocadas e em grande parte desinteressadas do interesse público, que naturalmente o deveria reger, orquestrar nossas políticas públicas...
A única conclusão que posso chegar é que realmente o Brasil é um país de "tolos", jamais de todos... Todos tolos? Não, pecaria por não relativizar o que não pode ser absoluto. São os tolos que se embriagam com o futebol, com o carnaval e com o ano que está por vir... Nesta "cômica" bebedeira que nos deixa em coma, omissos em torno de uma realidade que nos deprecia como seres pensantes, nos percebemos "A Procura da Felicidade" sem o glamour hollywoodiano de Will Smith, ainda que seja através do orgulho de nos dizermos felizes assim por dizer ou por não termos vivido o que se poderia tornar um paradigma de felicidade comum ou ainda da vergonha de mostrarmos o espelho de nossas desnudas almas infelizes e sem melhores prognósticos...
Com isso concluo, que permanecemos despreparados para opinar não apenas quando escolhemos alguém para nos representar, estamos despreparados para nos olharmos no espelho e dizermos quem ou o que somos...
Ok, o Brasil é o país do futuro...

3 comentários:

Carlinha disse...

Belíssimo texto.

Rubens disse...

Muito boa crítica e concordo. É dura, mas é real. Já favoritei e assim que tiver mais tempo lerei as mais antigas. Abç

Adilson Randi disse...

Não concordo muito com a visão que adotou. O índice de felicidade adotado nessa pesquisa corresponde não ao desenvolvimento do país, o valor do PIB ou a diminuição da pobreza. Mas sim, representa o nível de satisfação e de e expectativa de crescimento e melhora do país. O fato de estarmos economicamente e estruturalmente abaixo de países como os EUA, não quer dizer que somos menos felizes que eles. Ser feliz é uma questão de aceitar a realidade em que vive e viver bem com o que tem.Se isso é mediocridade, ou não ser, mas o resultado final não deveria ser a felicidade? A felicidade não é um reflexo de números, mas de posturas