Presentemente, devido às pressões internas de uma sociedade
desinformada de parte de suas histórias, e principalmente, às pressões
internacionais das entidades de proteção aos direitos humanos, o país conduzido
pela presidente Dilma, viu-se impelido a se reverberar também por seus podres
históricos, abdicando da cultura tupiniquim do empurrar para debaixo do tapete
nossas sujeiras e omitir nossas personalidades carcomidas e degradadas.
Dilma instalou a comissão da verdade, que durará o exíguo
período de dois anos, com a finalidade, espera-se não lúdica, de escrever um
pouco de história sobre os borrões que amordaçaram as palavras escritas e
faladas desse período.
Curiosidades, diria estrambólicas, sobre a chamada “Comissão
da Verdade”, puderam ser extraídas da cerimônia de inauguração... Em verdade,
poderia questionar se serão contadas histórias ou estórias de nossas histórias...
A inauguração contou com as “ilustres” presenças de figuras como Collor,
Dirceu, Genuíno, Sarney e Lula (estas duas já esperadas)... É possível
acreditar em “Comissão da Verdade”?
Bem verdade, que essas figuras não fazem parte da comissão, embora tenham
muitas histórias para contar além das estórias que sempre contaram...
A grande questão dessa “Comissão da Verdade” é, sem dúvida
alguma, a ausência de qualquer caráter punitivo posterior quanto as violações
que serão constatadas desse período que será estudado. Sob o manto fétido e
empoeirado da Lei da Anistia, em tese, defendem alguns a impossibilidade de se
punir os bárbaros daquele nebuloso período que forem desvendados por suas
barbáries. Seria apenas um trabalho com objetivo finalístico de contar histórias
sem repercuti-las para o campo da justiça penal quanto aos seus malfeitores... Em
um país que se bronzeia de impunidade diariamente, independente do mal que o
câncer sabidamente pode causar, não punir o que se revela obscuro e remoto
poderia revelar-se algo dispiciendo, não fosse a pressão que se sofrerá das
comunidades internacionais respaldadas por tratados internacionais do qual o
país é signatário, que se comprometeu a não apenas investigar, mas punir os
autores de crimes contra os direitos humanos.
O STF andou muito mal quando proferiu um julgamento
estritamente político quando convocado a pronunciar-se sobre a Lei da Anistia,
passando por cima, por exemplo, do Pacto São José da Costa Rica. Trazer como
fundamento uma situação histórica de fato, sem qualquer respaldo jurídico, para
manter intacta a Lei da Anistia, foi colocar-nos na posição de republiqueta
tupiniquim, incompatível com a importância que buscamos ter quando nos
pronunciamos no cenário mundial quanto às questões internacionais de interesse
global. Fundamentar a manutenção desta legislação sob o argumento de que essa
lei foi fundamental para a transição do regime ditatorial para o democrático,
não é julgar com os ideais constitucionais e principiológicos que se deveria
esperar, mas sim buscar razões meramente políticas de proteger e legitimar as
ausências de liberdades impostas pelo poder de ontem, encobrindo personalidades
que a história não nos revelou, e quando nos revelar, se revelar, restarão
blindadas pelo poder de hoje.
A OEA, ano passado, após essa decisão eminentemente política
do STF, condenou o Estado brasileiro por não haver investigado as ações
ordenadas pelos governos militares contra a guerrilha do Araguaia. Foi
indubitavelmente um vergonhoso puxão de orelha em nossa Corte Maior ,
deixando um claro recado de que tratados internacionais quando ratificados devem
ser cumpridos, principalmente em se tratando de tratados internacionais de
direitos humanos, que conforme entendimento do próprio STF tem força de norma
supralegal... Essa decisão do STF mancha o judiciário frente às entidades
internacionais e deveria ser urgentemente revista.
Por esse período deveriam responder os “subversivos” e os
agentes de Estado que cometeram excessos. Está aí a pedra de toque da questão.
Entre os "subversivos" estão muitos daqueles que representam o poder do presente,
que mataram, sequestraram, roubaram bancos e mesmo torturaram por suas causas...
Causas, que bradam hoje, revestidas de nobreza, de luta contra o regime
opressor, mas que buscavam implantar um outro regime opressor, apenas de sinal
trocado... Esse ponto tão importante de nossa história, que espero seja contado
ao fim do “Comissão da Verdade”, portanto, que tenhamos mais histórias e menos
estórias para contar...
Sem mais.
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