28 maio, 2012

GLOBALIZAÇÃO. CRISE. EFEITOS.


É como entrar em uma jamais vista montanha-russa, em meio à madrugada, sem um fio de luz... Um país mal planejado, onde Judas perdeu as botas, pode trair a confiança do mundo com um belo chute no “rabo” dos quem insuficientemente se planejaram... Globalização em uma linguagem figurativa.

E agora? Aquela republiqueta entrou em colapso! Mas ela está tão longe, não temos qualquer investimento por lá, ela não tem qualquer investimento por aqui, em que pode nos atingir? Essa reflexiva questão revelaria algum cabimento no período pré-globalização, hoje se mostra completamente distante de seu tempo e sem qualquer pertinência lógica minimamente realista.

A globalização criou o que se pode chamar de “responsabilidade por cumplicidade”, uma espécie de “um por todos e todos por um” ao melhor estilo dos Três Mosqueteiros... Não se deve gerir mais um país pensando unicamente em seus próprios interesses, a gestão de um passou a interressar à todos; literalmente um “pum” mal dado aqui poderá gerar conseqüências desagradáveis acolá...

É mais precisamente o que se convencionou denominar de “efeito dominó”, o maior temor dos mercados, a verdadeira "bomba-atômica branca” dos tempos modernos. Sem um pingo de pólvora se é capaz de destruições impossíveis de se precisar. É como se alguém “avacalhasse” sua honra sem lhe desferir um único peteleco, uma dor menos física e mais de alma para as economias globalizadas, difícil de se mensurar...

É nesse planejamento constante que vivem as economias hoje, procurando dar sustentabilidade às suas gestões de modo a conseguir superar seus problemas internos e manterem-se como peças rijas de um dominó, de pé, e não vulneravelmente frágeis, sujeitas aos destemperos dos ventos que sopram de fora...

Dificuldade maior, diria, nem é propriamente prever determinada crise, que muitas vezes são largamente anunciadas pelo próprio comportamento mercadológico pouco confiável, meio “ébrio”, no cenário mundial de determinada economia, mas a previsão de seus efeitos, o alcance de seus males, o tempo de instabilidade sujeito a tempestades que pode gerar. É nessa perspectiva que entra o bom ou mau planejamento, é nos períodos “entre-crises” que se prepara uma economia em direção a sua sustentabilidade e que produz-se o selo de acreditação mundial.

A crise que hoje vive a “Zona do Euro” é o melhor exemplo dessa verdade. A crise grega repercutiu imediatamente nos países da zona e mediatamente em países fora dela. Mas é nos países a ela pertencentes, que se percebe com maior nitidez esse fenômeno. Enquanto Portugal, Espanha, França, Itália, Irlanda, entre outros, entraram em crises profundas, e beiram o colapso interno, a Alemanha está forte, e hoje tem sido o destino principal do capital mundial. A crise grega vem provocando um efeito reverso perante a sustentável Alemanha, vem gerando crescimento e aumento de investimentos, reflexo da confiabilidade mundial que conquistou do mercado por uma economia que encontrou seu ponto de equilíbrio ideal entre a austeridade e o crescimento, que consegue manter seus números não sujeitos a oscilações e surpresas, tornando-se um verdadeiro porto seguro para os investidores que buscam resguardar seus capitais das literais “zonas” que se mostraram as economias mal planejadas dos demais. A estabilidade econômico-politica da Alemanha é hoje o maior paradigma de uma economia que soube se planejar.

Não há, na realidade, uma fórmula matemática para lidar com essas crises. A depender das condições de dada economia medir-se-á se o melhor é investir em políticas de crescimento ou se é hora de buscar austeridade. Aumentando os juros, evitar-se-á a evasão de capital, reduzir-se-ão as exportações, aumentar-se-á a dívida pública e diminuir-se-á o consumo, controlando a inflação e reduzindo o crescimento... Já se baixarem os juros, favorecer-se-ão as exportações, perder-se-á capital investido e reservas cambiais, aumentar-se-á o consumo e o risco de um período inflacionário em patamares indesejados, mas fomentar-se-á o crescimento...

Parece matemático... Mas é um ledo engano. A depender da credibilidade do país, da qualidade de seus empresários e investimentos, se voltados ao mercado interno ou externo, se está ou não aquecida a economia no momento de crise, se o país tem vocação para o mercado primário ou secundário, se é um país importador ou exportador, entre outros fatores, esta “lógica” sequencial mostrada acima, pode revelar-se sem qualquer logicidade prática e não aplicável a dada realidade...

Pousemos no Brasil. Dilma foi lamentar-se com a chanceler alemã Ângela Merkel e com o presidente Obama da muito provável enxurrada monetária que viveria o Brasil, segundo os analistas do governo viveríamos um “tsunami monetário”.

Seriam as lógicas não se estabelecendo, ou se estabelecendo com menos lógica que se imaginava... Se estiver havendo um “tsunami monetário” no Brasil, esse tem sido na direção contrária à que se esperava, o dinheiro está evadindo-se, a moeda se desvalorizando e o dólar disparando, a ponto do BC ter que fortemente intervir para momentaneamente estancar a alta do dólar... Onde está a lógica? Afinal, estamos em um longo período de estabilidade, praticamos ainda juros altos, mas, no entanto, o mercado nos desacreditou nesse período de crise... E por quê? A pergunta que não quer calar... Continuamos emergentes, e nesses períodos de crises não somos considerados seguros o bastante. Nas três primeiras semanas de maio os investidores sacaram 5,2 bilhões em aplicações financeiras no Brasil e o risco Brasil subira 24%...

O governo brasileiro até desejava uma leve alta do dólar a fim de dar maior competitividade aos produtos nacionais no mercado internacional, e para isso tivera tomado medidas para conter a entrada desse capital, como o aumento do pedágio cobrado dos estrangeiros, a redução do prazo para antecipação do pagamento das exportações, que era de dez anos e passou para um ano, a queda dos juros e o aumento das alíquotas para importação. Mas a alta foi tamanha, que a preocupação ganhou ares superlativos, já que provocou efeitos inversos, somatizados pelas medidas citadas que só aumentaram o buraco. As medidas do governo, que imaginava um quadro “X”, surtiram efeitos contrários aos queridos, pois na realidade o quadro era “Y”... Dessa forma as preocupações passaram a ser a alta da inflação pelo aumento do valor das importações e com as instituições, que confiando na “estabilidade do real”, tomaram empréstimos no exterior, tudo pela equivocada leitura do governo de nossa “estabilidade”, que antecipara a leitura que os investidores fariam do Brasil em um cenário de crise global, tudo ao melhor estilo “Mãe Diná”... Pelo quadro atual, as barreiras instaladas pelo Brasil devem ser rapidamente eliminadas a fim de se evitar um quadro econômico caótico de maior dificuldade de reversão, ao que me parece...

Aos investidores internacionais esse erro de estratégia fez lograr desconfiança, insegurança, por não se poder precisar o modelo de política adotado no Brasil. Mudanças intempestivas baseadas em antecipados “achismos” em nada credenciarão o Brasil para alçar o posto perante o mercado mundial de uma economia realmente estável e sem surpresas contraditórias às tendências que se praticavam até então...

Enfim, o tripé da economia brasileira, que até então se pautava no controle fiscal, no sistema de metas da inflação e no câmbio flutuante virou saci... As metas de inflação não são mais as mesmas, o câmbio flutuante não mais flutua, após as seguidas intervenções do BC e o saci se equilibra apenas com base no controle fiscal, que ainda mantém o superávit primário em 3% do PIB, por enquanto...

Findando, em minha opinião, o governo continua fazendo apostas “popularescas” equivocadas, jogando para galera à beira das eleições. Com medidas paliativas como a redução do PIB para aumentar o consumo, o país endivida ainda mais o brasileiro já endividado, que com um altíssimo índice de inadimplência, uma realidade atual, só faz é agravar sua situação, gerando como conseqüência inelutável posterior retração no consumo e redução dos créditos bancários disponíveis no mercado. E o que fazer? Atacar nossas raízes impeditivas. E onde estão? No gravíssimo problema de infraestrutura que tem o Brasil para crescer de forma sustentável e fomentar o investimento em tecnologia de produção, soluções menos popularescas é verdade, bem mais caras, também é verdade, mas que trariam a médio/longo prazo rendimentos econômico-sociais como geração de empregos e aumento de produção à menores custos, construindo-se dessa forma as sapatas necessárias para se suportar a construção do tão prolatado crescimento sustentável, mas sem apagões no meio do percurso ou sem saídas para o mar (portos) na hora do desafogo, se é que me fiz entender...

Sem mais.

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