14 junho, 2012

Rio+20. E ESSE PAPO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? PARA QUEM TEM MEDO DO BOZO E ACREDITA EM PAPAI NOEL...

A expressão desenvolvimento sustentável, embora fantástica em sua preambular concepção finalística, macula-se por sua insofismável ausência de aplicabilidade. A distância entre seu ideário conceitual e sua efetividade prática é abissal e quase que intransponível, tendo em vista o desequilíbrio dos interesses capitaneados.
É um eterno embate entre capital e meio-ambiente onde o desenvolvimento pouco cede para sustentabilidade. A cada encontro entre as nações globais, passos de cágados são firmados, e desses, grande parte não executados, em um circo de protocolos de intenções que empurra para amanhã a solução do problema de ontem, de um amanhã que insiste em não chegar...
O "desenvolvimento sustentável" procura satisfazer as necessidades da atual geração sem sacrificar a capacidade das futuras de satisfazerem as suas. Tem como foco possibilitar que as pessoas no presente e no futuro atinjam um satisfatório nível de desenvolvimento social e econômico, de realizações humanas e culturais fazendo-se um uso racional dos recursos da terra, preservando as espécies em suas condições naturais de vida e habitat. Lindo!
Um conceito estruturalmente muito bem acabado por sua nobreza altruísta, e claro, politicamente correto. E daí? A ideologia Nazifascista é extremamente excludente e egoísta e não deixou de ser ardorosamente defendida por seus praticantes exterminadores de vida. As guerras, que todos têm consciência de seu potencial deletério e de sua brutal e insustentável ignorância fazem parte da história humana e encontra defensores de suas inevitabilidades... O comunismo, tão sufragado em outrora e ainda defendido com fervor por muitos, matou, exterminou incontáveis vidas por ideologia.
Engana-se quem imagina que a conta final será paga pelo meio ambiente. Esse, conjuntamente, tem uma sabedoria de milhões de anos, suficiente para encontrar suas defesas e soluções de regeneração. Na natureza se foram os dinossauros e outras espécies surgiram, parte do que era verde e alto tornou-se marrom e rasteiro, algumas exuberâncias do ecossistema adaptaram-se as novas realidades impostas pelo homem, mas ao final, o homem terá que se adaptar às hostilidades que ele mesmo criou... Será que o homem terá o mesmo poder de regeneração da natureza? O homem em sua concepção maior, um matador e um suicida por natureza, em toda sua ébria inteligência conquistada por uma centena de livros lidos e algumas décadas de vida vividas, será, ao final, o homem em sua concepção menor, muito provavelmente, cavalheristicamente, pagará a conta com a sua extinção natural.
A verdade é que o homem não se mostra capaz de compatibilizar o desenvolvimento com sua responsabilidade para com as futuras gerações. Se tecnologias sustentáveis trazem avanços para essa relação, esses avanços são ínfimos e extremamente onerosos em relação às necessidades que são prementes. O ponto ideal entre o antropocentrismo e o ecocentrismo é algo que se faz incompatível pelo dominante egocentrismo humano que a história não nos cansa de reprisar.
Faticamente é de fácil demonstração do que assevero. Quem mais polui o planeta são as nações desenvolvidas e as que estão em processo de desenvolvimento. Quaisquer dessas economias perderiam em competitividade se investissem maciçamente em tecnologias limpas de desenvolvimento, pelo seu alto custo e por seu déficit de resultados quando comparadas às tradicionais poluidoras. Qual nação abriria mão de desenvolver-se e de seu potencial de competitividade? Nenhuma. É utópico também imaginar que todas teriam capacidade de produzir tecnologias limpas, tão utópico como cogitar da adesão global a esse oneroso objetivo. Na Rio+20, Barack Obama, a chanceler da Alemanha Angela Merkel e o primeiro-ministro da Inglaterra David Cameron não estarão presentes, justamente os Chefes de Estados que respondem pelos maiores poluidores do globo e que teriam que abdicar de uma cota maior de seus desenvolvimentos pela “sustentabilidade” do planeta...
Some-se a isso a profunda crise que as nação desenvolvidas e em desenvolvimento vêm enfrentando, acho que nem acreditando em Papai-Noel dá para acreditar na Rio+20... Alguém minimamente antenado acredita que os grandes poluidores farão concessões que reduzam seus desenvolvimentos em proveito de uma sustentabilidade ambiental? Em caso positivo, você certamente teme o Bozo, não?
É tudo como uma CPI tupiniquim, que tem como objetivo principal fazer graça e cultivar-nos a arte de sermos palhaços... Aliás, não é a toa que o brasileiro é considerado o povo mais feliz do mundo, que consegue achar um sorriso até da desgraça... Temos rotineiramente CPIs e temos sido os escolhidos para esses grandes encontros que buscam viabilizar formas de desenvolvimento sustentável... Resta inelutável, que é sim, o Brasil, a capital mundial da graça. Pensou em diversão? Pensou em palhaçada? Escolhamos o Brasil como destino! Devemos nos orgulhar?
Avanços? Acredito, mas nada que mereça qualquer destaque, nada que mude qualquer realidade...
Atualização:
Resolvi atualizar o texto que fiz antes do documento haver sido discutido e ser considerado pronto para ratificação dos Chefes de Estado. Conforme antecipei a Rio+20 foi um sonoro fiásco, sem nenhuma ambição revelou-se muito mais prosa que conteúdo. Os principais pontos não apenas não foram definidos como não se estabeleceu qualquer prazo para retomada de discussões. Definições como o que seria Economia Verde, como as indústrias podem ser mais eficientes, agredindo-se menos o meio ambiênte, racionalizando a exploração dos recursos produtivos, nada se definiu. Faltou concretude, estabelecimento de metas não apenas para o poder público, mas para as empresas do setor privado que produzem poluindo. O documento não revela ainda quem será o grande financiador do desenvolvimento sustentável. O fundo de 30 bilhões, que constava no texto original, foi retirado por pressão dos países maiores poluidores e detentores de capital, dos que seriam naturalmente os grandes financiadores do desenvolvimento sustentável. O Brasil, como país sede, revelou-se morno e sem pulso para fazer valer seus interesses e dos demais países em desenvolvimento. Muita mobilização, muito barulho, para quase nada...

2 comentários:

Carlos Fiuza (Engenheiro de FURNAS) disse...

Caro Sarmento,
Inegável sua análise, infelizmente. Parabéns pela qualidade e esmero dos seus textos. Me impressionaram muito.

Mariana disse...

Concordo em gênero, número e grau. excelente!