Coréia, que tinha uma existência de 4 mil anos e se viu dividida
em duas metades. Uma primeira sob influência dos EUA e uma segunda
subvencionada pela extinta URSS e pela China. Uma no modelo capitalista
democrático e outra metade sob o esteio de um regime comunista despótico. A
Guerra-Fria alimentava as duas metades até a derrocada do comunismo, quando a
metade de cima deixou de ser subvencionada, que pautado por um modelo econômico
falido, estatizante e centralizado apodreceu embriagada pelo autoritarismo
opressor. A Primavera Árabe apenas aditivou o estado de putrefação pragmaticamente
instalado pelas potências de outrora.
A metade norte continuou sua saga repressora oprimindo as
mais banais liberdades individuais, desde a liberdade de ir e vir até a
liberdade político-sindical, de imprensa, de internet, todas usurpadas da coletividade,
que definha como uma das nações mais pobres do planeta em uma recessão
econômica sem fim, que muitos caracterizam menos como um país e mais como uma
enorme prisão política “independente” e soberana.
Bem verdade que a metade do norte não representa apenas o
atraso, esta metade carcomida investiu a renda do confisco angariada da
população em armas com uma tecnologia bélica sofisticada, contando com armas
químicas, mísseis de longo alcance, e segundo expertises em matéria bélico-militar
com seis bombas-atômicas desde 2009 no objetivo de chegar a quarenta e oito em
2015, esta, aliás, característica marcante dos regimes ditatoriais, um povo
explorado, oprimido, faminto, em um Estado corrupto, que prioriza o
investimento bélico-militar como forma de se manter o poder.
O país é comandado pelo déspota Kim Jong-un, herdeiro do
poder de seu pai e de seu avô, que já comandavam o país como caudilhos violadores
dos Direitos Humanos em graus superlativos, herança, percebe-se, passada às
subsequentes gerações.
O regime norte-coreano sobrevive em meio aos embargos e
sanções econômicas da ONU capitaneada pelos EUA, que em meio a mais profunda escassez
de recursos naturais dependeria das relações econômicas internacionais para ter
alguma viabilidade. Recluso e desumanamente introspectivo expõe sua população
as maiores privações imagináveis, que sem direitos fundamentais conquistados ou
direitos humanos passíveis de pleito, definha em doloroso silêncio sob pena de
prisão ou morte, sem direito a contraditório.
Das duas Coreias absolutamente inconciliáveis não vejo
salvação a Coréia do Norte. Solução que se premedita seria a morte da parte
podre para que a saudável forme uma nova Coreia, acolhendo como uma unidade
duas metades absolutamente dissonantes em suas realidades no mais amplo
espectro. A situação é infinitamente mais delicada pela desigualdade extrema,
que a passada palas duas Alemanhas por ocasião da queda do Muro de Berlim. Contra
uma unificação inviável hoje, improvável em futuro próximo, estaria a China,
mas referida hipótese já se faz palatável aos EUA, Japão e Rússia, sendo certo
que a China ainda é a fornecedora de alimentos e energia a Coréia do Norte até
os hodiernos dias, e que como país fronteiriço quer manter a Coréia do Norte
distante de uma abertura capitalista, o que para eles seria motivo de
instabilidade e perigo para sua fronteira, já atacada pelo Japão por território
coreano em tempo mais remotos.
Militarmente a Coréia investiu maciçamente em tecnologias de
ponta não apenas importando, como passou a ser uma exportadora bélica a países
autocratas como Líbano, Paquistão, Irã e Síria. O despotismo norte-coreano
acredita e aposta que em sendo uma potencial ameaça ao mundo, possuindo
armamentos capazes, inclusive, de alcanças o Tio San, facilitaria possíveis
negociações econômicas. Além, se reveste como uma questão estratégica de
segurança, de incolumidade governamental de poder. A meta precípua e maior é a
construção de ogivas nucleares capazes de alcançar o símbolo imperialista do
capitalismo através de seus mísseis já desenvolvidos, entrando em um seleto
grupo de países com esta capacidade militar.
Quanto ao isolamento de 50 anos que vive os norte-coreanos
anseiam pela abertura para o mundo digital, o que fascina, inclusive, a
liderança autocrata. E o que falta para a google
propiciar esta possibilidade? A autorização de tal liderança, pois esta
abertura ao mundo digital só é querida se dirigida às autoridades despóticas,
jamais se cogitando que a população norte-coreana acesse a um mundo globalizado
completamente desconhecido, e que, por certo, revelar-se-ia a mola propulsora,
a pedra de toque para uma luta interna objetivando a destituição do regime
desumano a que são submetidos, desnudando as mentiras que as publicidades
institucionais incutem aos forçadamente alienados norte-coreanos.
O tempo dará o desfecho desta história, se um “final feliz”,
ao modelo estadunidense, como o ocorrido na Alemanha, ou se o modelo Chinês
perseverará e nos revelará surpresas “non gratas”.
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