Esta é uma pergunta perversa, pois promovedora de uma
resposta esclarecedora particularmente impossível. Se depois do banho estamos
limpos por que lavamos a toalha? Se o vinho é líquido, como se conceber a existência
de vinho seco? Como se colocar no meio do gramado uma placa de que é proibido
pisar na grama? Se o Pato Donald não usa calças, por que quando ele sai do
banho sempre amarra uma toalha em torno da cintura? Todas perguntas sem
respostas, ou de respostas que não respondem ou não satisfazem nossas
curiosidades, do tipo: “É assim porque é”... Essa espécie de resposta é um escapismo muito utilizado pelos pais com relação aos seus filhos na idade impúbere.
Já nessa idade algumas crianças (de regra as intelectualmente mais inquietas)
mostram nítido desconforto, pois legitimamente esperavam por uma comunicação
mais esclarecedora, mais transparente...
É nessa seara que nos visualizamos nesse país. Temos nosso “pai”,
muito melhor representado na figura do mais desleixado “padrasto”, que nada
nos esclarece como parte de uma esperada educação. Trata-nos como incapazes,
diria menos crianças e mais idiotas que devem aceitar o sistema da forma que se
apresenta, pois “assim que ele é”... Imaginemos uma criança questionando seu “pai”
do motivo de haver batido em sua mãe na sua presença, e o “pai/padrasto” lhe
respondendo que sua mãe mereceu a coça e com ele é assim que as coisas
funcionam... Essa é a relação do Estado (pai/padrasto) com a sociedade (filhos
idiotizados), uma relação repleta de perguntas sem respostas ou de respostas
insatisfatórias...
Essa introdução, que fiz uso de algumas figuras de linguagem,
serve para refletir nosso papel dentro da sociedade. Quais nossas funções como
cidadãos frente ao Estado? Apenas de pagar impostos e se sujeitar às regras
impositivas? É legítimo tratar assuntos que exigiriam a máxima transparência,
por se revestirem de interesse público, como assuntos de “segurança nacional”? É
legítimo ofender nosso discernimento intelectual com respostas que nada
respondem e manterem-se legítimos frente a quem os legitimou em seus mandatos
de poder? Essas respostas sim, são possíveis de serem dadas, mas não sou eu nem
você leitor, de per si, que daremos. Cabe
a sociedade pensante se mobilizar, distanciar-se de sua crônica letargia e
cumprir seu papel participativo dentro de um Estado democrático de Direito,
lutando pelo que seria a finalidade precípua do poder público, o bem comum, na
forma de substituto desse processo de ocultação de seu fim constitucional. A sociedade sairia de seu estado passivo de
omissão, e mobilizada, perseguiria o bem comum, em uma inverossímil luta com o
poder público que busca precipuamente a proteção de seus interesses privados...
Veja você leitor essa ilustríssima relação entre a empresa
Delta, o crime e o poder, que curioso. Um sopão que deveria ser exótico, mas que
de tão comum perde tal caráter e só produz indigestão por seus ingredientes
vencidos e de baixa qualidade... Nessa mistura, que até ser desvendada todos
sonhavam em dela participar, mas que com sua deflagração todos juram dela
desconhecer... Veja o Governo Federal, por exemplo, que está sempre a alegar
que suas indigestões têm como causa algo que desconheciam até então, e que esta advém de ingredientes do passado de mãos que não lhes pertenciam... Estamos obrigados socialmente
a fazer uma CPI, podemos capitalizar se pegarmos como bodes expiatórios os
ingredientes A, C e E, que não nos pertencem, deixando de fora os ingredientes B
e D, colocado por nós e que diretamente nos comprometeria... Faremos uma CPI parcial dos fatos, seletiva... Que Pagot, Cavendish
fiquem fora da CPI pelo bem do PAC e das próximas eleições! Será preciso Medida Provisória para que se transforme em lei? Quantos ingredientes e temperos serão ocultados de sua receita original?
E o Senador Demóstenes? Um dos maiores “ledo engano” que
acompanhei como homem público... Com um razoável conhecimento jurídico pregava
a moralidade e a ética junto aos seus pares e até que convencia... No sopão é ele o ingrediente que me causa maior azia, indigestão, pois
até então não o imaginaria como ingrediente de um sopão dessa qualidade, ainda
que pudesse incrementar sopinhas mais ralas e dentro do prazo de validade...
Condenar Cachoeira não será uma tarefa das mais difíceis por
sua notória biografia de membro do poder paralelo, deixá-lo na cela já serão outros quinhentos... O grande desafio será ter o
conhecimento dos demais elementos da quadrilha pertencentes ao poder legitimado,
oficial, e em um segundo passo, ultrapassada essa barreira de difícil
transposição, condená-los; mesmo com toda blindagem dos membros de poder do
presente e de um passado menos remoto...
Vamos ver até quando os ingredientes desse sopão indigesto
serão sonegados da sociedade... Até quando não teremos conhecimento do que nos
dão para comer e nos causa essa diarreia extremamente desagradável e constante...
Aliás, o banheiro me chama...
Aliás, o banheiro me chama...
Sem mais.
3 comentários:
Belíssimos textos. Vou indicar o seu blog, essa qualidade que você imprime quase artesanal não se vê. Parabéns!
Muto bom, caro Sarmento. São excelentes seus textos. Voltarei para acompanhar.
Bem criativa e muito inteligente sua abordagem. Volto!
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