08 maio, 2012

UMA SUAVE REFLEXÃO DE NOSSA RELAÇÃO COM AS INSTITUIÇÕES DE PODER. CACHOEIRA, DEMÓSTENES, DELTA (...) E? E QUEM? A CPI REVELARÁ? O GOVERNO FEDERAL PERMITIRÁ? QUESTÕES...

Assunto de hostilidade implacável ao mínimo que se poderia esperar de uma razoável eticidade-moral no trato da coisa pública, que confere supedâneo ao mais ardente sentimento de asco e ojeriza pelo todo que nos é imposto, que provoca a insuperável legitimidade do ódio social pelas representações de poder...  Onde estaria a panacéia de um sistema que educa a partir da mais porca “aeticidade” imoral, que oferta como paradigma social o que deveria revelar-se quase imperceptível no sistema, e, portanto, a esse não pertencente, fruto de uma malversada exceção exógena do mesmo?
Esta é uma pergunta perversa, pois promovedora de uma resposta esclarecedora particularmente impossível. Se depois do banho estamos limpos por que lavamos a toalha? Se o vinho é líquido, como se conceber a existência de vinho seco? Como se colocar no meio do gramado uma placa de que é proibido pisar na grama? Se o Pato Donald não usa calças, por que quando ele sai do banho sempre amarra uma toalha em torno da cintura? Todas perguntas sem respostas, ou de respostas que não respondem ou não satisfazem nossas curiosidades, do tipo: “É assim porque é”... Essa espécie de resposta é um escapismo muito utilizado pelos pais com relação aos seus filhos na idade impúbere. Já nessa idade algumas crianças (de regra as intelectualmente mais inquietas) mostram nítido desconforto, pois legitimamente esperavam por uma comunicação mais esclarecedora, mais transparente...
É nessa seara que nos visualizamos nesse país. Temos nosso “pai”, muito melhor representado na figura do mais desleixado “padrasto”, que nada nos esclarece como parte de uma esperada educação. Trata-nos como incapazes, diria menos crianças e mais idiotas que devem aceitar o sistema da forma que se apresenta, pois “assim que ele é”... Imaginemos uma criança questionando seu “pai” do motivo de haver batido em sua mãe na sua presença, e o “pai/padrasto” lhe respondendo que sua mãe mereceu a coça e com ele é assim que as coisas funcionam... Essa é a relação do Estado (pai/padrasto) com a sociedade (filhos idiotizados), uma relação repleta de perguntas sem respostas ou de respostas insatisfatórias...
Essa introdução, que fiz uso de algumas figuras de linguagem, serve para refletir nosso papel dentro da sociedade. Quais nossas funções como cidadãos frente ao Estado? Apenas de pagar impostos e se sujeitar às regras impositivas? É legítimo tratar assuntos que exigiriam a máxima transparência, por se revestirem de interesse público, como assuntos de “segurança nacional”? É legítimo ofender nosso discernimento intelectual com respostas que nada respondem e manterem-se legítimos frente a quem os legitimou em seus mandatos de poder? Essas respostas sim, são possíveis de serem dadas, mas não sou eu nem você leitor, de per si, que daremos. Cabe a sociedade pensante se mobilizar, distanciar-se de sua crônica letargia e cumprir seu papel participativo dentro de um Estado democrático de Direito, lutando pelo que seria a finalidade precípua do poder público, o bem comum, na forma de substituto desse processo de ocultação de seu fim constitucional.  A sociedade sairia de seu estado passivo de omissão, e mobilizada, perseguiria o bem comum, em uma inverossímil luta com o poder público que busca precipuamente a proteção de seus interesses privados...
Veja você leitor essa ilustríssima relação entre a empresa Delta, o crime e o poder, que curioso. Um sopão que deveria ser exótico, mas que de tão comum perde tal caráter e só produz indigestão por seus ingredientes vencidos e de baixa qualidade... Nessa mistura, que até ser desvendada todos sonhavam em dela participar, mas que com sua deflagração todos juram dela desconhecer... Veja o Governo Federal, por exemplo, que está sempre a alegar que suas indigestões têm como causa algo que desconheciam até então, e que esta advém de ingredientes do passado de mãos que não lhes pertenciam... Estamos obrigados socialmente a fazer uma CPI, podemos capitalizar se pegarmos como bodes expiatórios os ingredientes A, C e E, que não nos pertencem, deixando de fora os ingredientes B e D, colocado por nós e que diretamente nos comprometeria... Faremos uma CPI parcial dos fatos, seletiva... Que Pagot, Cavendish fiquem fora da CPI pelo bem do PAC e das próximas eleições! Será preciso Medida Provisória para que se transforme em lei? Quantos ingredientes e temperos serão ocultados de sua receita original?
E o Senador Demóstenes? Um dos maiores “ledo engano” que acompanhei como homem público... Com um razoável conhecimento jurídico pregava a moralidade e a ética junto aos seus pares e até que convencia... No sopão é ele o ingrediente que me causa maior azia, indigestão, pois até então não o imaginaria como ingrediente de um sopão dessa qualidade, ainda que pudesse incrementar sopinhas mais ralas e dentro do prazo de validade...
Condenar Cachoeira não será uma tarefa das mais difíceis por sua notória biografia de membro do poder paralelo, deixá-lo na cela já serão outros quinhentos... O grande desafio será ter o conhecimento dos demais elementos da quadrilha pertencentes ao poder legitimado, oficial, e em um segundo passo, ultrapassada essa barreira de difícil transposição, condená-los; mesmo com toda blindagem dos membros de poder do presente e de um passado menos remoto...
Vamos ver até quando os ingredientes desse sopão indigesto serão sonegados da sociedade... Até quando não teremos conhecimento do que nos dão para comer e nos causa essa diarreia extremamente desagradável e constante...
Aliás, o banheiro me chama...

Sem mais.

3 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimos textos. Vou indicar o seu blog, essa qualidade que você imprime quase artesanal não se vê. Parabéns!

Prof. Fragoso disse...

Muto bom, caro Sarmento. São excelentes seus textos. Voltarei para acompanhar.

Anônimo disse...

Bem criativa e muito inteligente sua abordagem. Volto!