Kit anti-homofobia?
Pejorativamente alcunhado como Kit gay, surgiu com força e veio a lume em 2011.
Em 2011 foi vítima de “bullying” e restou esquecido do convívio com a
sociedade. Junto com ele postergou-se para alguns a “esperança” de que as
diversidades restassem explicitadas e deliberadas por uma sociedade plural dada
a patológicas hipocrisias, mas, que ao menos, por imperativo constitucional,
deveria respeitar as diferenças...
Uma pequena introdução que já
poderá também ser vitimada pelo preconceito dos setores mais carolas e arcaicos
da sociedade. O autor dessa pequena introdução já poderá estar sendo vitimado
como pertencente à categoria estereotipada dos “desviados” dos bons costumes e
da boa moral, quiçá já categorizado como “pederasta de punho frouxo”...
Bem, quero fazer lembrar que bom
senso e razoabilidade independem de gênero ou orientação sexual. Não é
necessário ser negro para se defender causas étnico-raciais, nem homossexual
para defender pleitos diretamente interessados à homossexualidade. São questões
plurais e pelas vestes hipócritas que a recobrem, de inegáveis complexidades, e
por isso mesmo devem ser desmistificadas e trazidas à baila para um maior
diálogo de assimilação e respeito. Digo questões plurais, pois repercutem não
isoladamente nessas “indigitadas” minorias, mas nas maiorias “normais”, que
convivem em uma mesma realidade gregária e democrática de interações e dependências.
Consabido, que em uma democracia
participativa a vontade das maiorias deve prevalecer se não fulminar o direito
das minorias. É a partir da imposição da vontade das maiorias iniquilando
minorias, que construiu-se uma ditadura no modelo nazista...
As questões da homoafetividade
não podem ser tratadas como questões políticas, mas sim como questões
existenciais de direitos humanos. Dilma vetou o kit anti-homofobia não pelo
mérito de ser o kit apropriado ou não, de ser o kit a forma mais idônea de se
tratar a questão, mas por pressão da bancada fundamentalista cristã, que
ameaçou convocar membros do PT para uma das muitas CPIs daquele ano (2001)...
Intolerável! Como questões político-partidárias podem interferir em uma decisão
de caráter social que a muito se mostra prioritária pelas repercussões que promove?
Para blindar um membro do partido de ser investigado e descoberto por suas
mazelas, cede-se a uma chantagem política e veta-se um projeto educacional sem
ao menos analisar-se seu mérito? Escárnio!
Comportamentalmente a sociedade
mais discernida deveria abraçar causas das minorias que se delineiem legítimas
e apropriadas, independente de a elas pertencerem. Quando a sociedade alcançar
esse grau evolutivo os debates serão muito mais francos e consentâneos com as
verdades, menos partidarizados e rotulados por categorias, teremos uma
verdadeira deliberação da sociedade. Por ora, encontramos debates setorizados,
onde negros lutam apenas por suas conquistas e só lutarão também pela minoria
homossexual se for negro e gay. Peca-se por enxergarmos apenas os nossos
próprios umbigos quando nos esquecemos de que há um mundo em volta com que
devemos nos relacionar, interagir e deliberar. Essas lutas de tribos não
abarcadas pela sociedade provocam muitas vezes a defesa de posições irrazoáveis
e antagônicas tornando-se verdadeiros embates mesquinhos não geradores de
consenso. O crescimento só ocorrerá de forma sustentável quando às minorias se
oportunizar, pois se o tronco e os membros do lado esquerdo se desenvolverem
sozinhos a atrofia dos membros do lado direito nos deixarão anormais e
tendentes ao desequilíbrio...
Devemos praticar mais a isonomia
material, tratando os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual na
medida de suas desigualdades, como forma de obtermos um equilíbrio e crescermos
por igual...
Particularmente, quanto ao mérito
do kit-escola anti-homofobia, discuto sua eficiência. Acho que muito mais que
livros e vídeos impondo “verdades” nas escolas, o que pode provocar uma reação
de repulsa e revolta diversa da desejada, entendo que os professores devem ser
educados para o trato natural das questões que cotidianamente vierem a se apresentar.
Desnecessária a tentativa de lavagem cerebral dirigida a uma criança,
aprendizado que deve ser gradual e da forma mais natural possível, e não
imposto como verdade absoluta. Some-se a isso, um processo preambular de
educação a ser produzido e desenvolvido nas mídias para melhor orientar os pais
dessas crianças, muitos ainda presos a concepções machistas que certamente
apresentar-se-ão como barreiras intransponíveis por qualquer que kit-escola por
mais bem feito que se produza. A ideia de não chocar crianças e pais deve ser
perseguida, por isso entendo que não é o momento para introduzir-se o kit antes
de uma maior conscientização de quem efetivamente possui ingerência psíquica sobre
essas crianças. Pular etapas pode causar um efeito bumerangue sem alcançar qualquer
evolução pretendida ou mesmo um retrocesso das situações já conquistadas...
Nem Bolsonaro(s) homofóbicos e
estúpidos por essência nem defensores das causas das minorias radicais provocadores
de discriminações inversas por suas sustentações impositivas apresentarão
soluções razoáveis para minorar os defeitos dessa capenga democracia. O
razoável deve ser buscado a partir de uma gradual conscientização não
impositiva e ser vista com parcimônia e bom senso a partir de nossas realidades
não acobertadas sob o manto da hipocrisia.
O kit-escola anti-homofóbico deve
entrar novamente em pauta esse ano no congresso. Merece nessa nova oportunidade
a legitimidade de uma discussão mais ampla sem contornos políticos como fator
fundamental de decisão. Trata-se de questões existenciais que podem ser vistas
a partir de uma ótica maniqueísta setorizada.
Sem mais.
2 comentários:
Belíssimo artigo. Grande sensibilidade. Deveria ser lido e relido por cada brasileiro, mesmo que seja com um dicionário ao lado. Essa é uma sociedae ideal que pode ser construída aos poucos. Concordo com suas colocações.
Um enorme prazer ter lido esse artigo. Vou retornar.
Um texto bem denso. Adorei!
Postar um comentário