19 julho, 2012

KIT ANTI-HOMOFOBIA EM UMA DISCUSSÃO AMPLA QUE TOCA EM HOMOSSEXUALIDADE DESPIDA DE HIPOCRISIAS


Kit anti-homofobia? Pejorativamente alcunhado como Kit gay, surgiu com força e veio a lume em 2011. Em 2011 foi vítima de “bullying” e restou esquecido do convívio com a sociedade. Junto com ele postergou-se para alguns a “esperança” de que as diversidades restassem explicitadas e deliberadas por uma sociedade plural dada a patológicas hipocrisias, mas, que ao menos, por imperativo constitucional, deveria respeitar as diferenças...
Uma pequena introdução que já poderá também ser vitimada pelo preconceito dos setores mais carolas e arcaicos da sociedade. O autor dessa pequena introdução já poderá estar sendo vitimado como pertencente à categoria estereotipada dos “desviados” dos bons costumes e da boa moral, quiçá já categorizado como “pederasta de punho frouxo”...
Bem, quero fazer lembrar que bom senso e razoabilidade independem de gênero ou orientação sexual. Não é necessário ser negro para se defender causas étnico-raciais, nem homossexual para defender pleitos diretamente interessados à homossexualidade. São questões plurais e pelas vestes hipócritas que a recobrem, de inegáveis complexidades, e por isso mesmo devem ser desmistificadas e trazidas à baila para um maior diálogo de assimilação e respeito. Digo questões plurais, pois repercutem não isoladamente nessas “indigitadas” minorias, mas nas maiorias “normais”, que convivem em uma mesma realidade gregária e democrática de interações  e dependências.
Consabido, que em uma democracia participativa a vontade das maiorias deve prevalecer se não fulminar o direito das minorias. É a partir da imposição da vontade das maiorias iniquilando minorias, que construiu-se uma ditadura no modelo nazista...
As questões da homoafetividade não podem ser tratadas como questões políticas, mas sim como questões existenciais de direitos humanos. Dilma vetou o kit anti-homofobia não pelo mérito de ser o kit apropriado ou não, de ser o kit a forma mais idônea de se tratar a questão, mas por pressão da bancada fundamentalista cristã, que ameaçou convocar membros do PT para uma das muitas CPIs daquele ano (2001)... Intolerável! Como questões político-partidárias podem interferir em uma decisão de caráter social que a muito se mostra prioritária pelas repercussões que promove? Para blindar um membro do partido de ser investigado e descoberto por suas mazelas, cede-se a uma chantagem política e veta-se um projeto educacional sem ao menos analisar-se seu mérito? Escárnio!
Comportamentalmente a sociedade mais discernida deveria abraçar causas das minorias que se delineiem legítimas e apropriadas, independente de a elas pertencerem. Quando a sociedade alcançar esse grau evolutivo os debates serão muito mais francos e consentâneos com as verdades, menos partidarizados e rotulados por categorias, teremos uma verdadeira deliberação da sociedade. Por ora, encontramos debates setorizados, onde negros lutam apenas por suas conquistas e só lutarão também pela minoria homossexual se for negro e gay. Peca-se por enxergarmos apenas os nossos próprios umbigos quando nos esquecemos de que há um mundo em volta com que devemos nos relacionar, interagir e deliberar. Essas lutas de tribos não abarcadas pela sociedade provocam muitas vezes a defesa de posições irrazoáveis e antagônicas tornando-se verdadeiros embates mesquinhos não geradores de consenso. O crescimento só ocorrerá de forma sustentável quando às minorias se oportunizar, pois se o tronco e os membros do lado esquerdo se desenvolverem sozinhos a atrofia dos membros do lado direito nos deixarão anormais e tendentes ao desequilíbrio...
Devemos praticar mais a isonomia material, tratando os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual na medida de suas desigualdades, como forma de obtermos um equilíbrio e crescermos por igual...
Particularmente, quanto ao mérito do kit-escola anti-homofobia, discuto sua eficiência. Acho que muito mais que livros e vídeos impondo “verdades” nas escolas, o que pode provocar uma reação de repulsa e revolta diversa da desejada, entendo que os professores devem ser educados para o trato natural das questões que cotidianamente vierem a se apresentar. Desnecessária a tentativa de lavagem cerebral dirigida a uma criança, aprendizado que deve ser gradual e da forma mais natural possível, e não imposto como verdade absoluta. Some-se a isso, um processo preambular de educação a ser produzido e desenvolvido nas mídias para melhor orientar os pais dessas crianças, muitos ainda presos a concepções machistas que certamente apresentar-se-ão como barreiras intransponíveis por qualquer que kit-escola por mais bem feito que se produza. A ideia de não chocar crianças e pais deve ser perseguida, por isso entendo que não é o momento para introduzir-se o kit antes de uma maior conscientização de quem efetivamente possui ingerência psíquica sobre essas crianças. Pular etapas pode causar um efeito bumerangue sem alcançar qualquer evolução pretendida ou mesmo um retrocesso das situações já conquistadas...
Nem Bolsonaro(s) homofóbicos e estúpidos por essência nem defensores das causas das minorias radicais provocadores de discriminações inversas por suas sustentações impositivas apresentarão soluções razoáveis para minorar os defeitos dessa capenga democracia. O razoável deve ser buscado a partir de uma gradual conscientização não impositiva e ser vista com parcimônia e bom senso a partir de nossas realidades não acobertadas sob o manto da hipocrisia.
O kit-escola anti-homofóbico deve entrar novamente em pauta esse ano no congresso. Merece nessa nova oportunidade a legitimidade de uma discussão mais ampla sem contornos políticos como fator fundamental de decisão. Trata-se de questões existenciais que podem ser vistas a partir de uma ótica maniqueísta setorizada.
Sem mais.

2 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo artigo. Grande sensibilidade. Deveria ser lido e relido por cada brasileiro, mesmo que seja com um dicionário ao lado. Essa é uma sociedae ideal que pode ser construída aos poucos. Concordo com suas colocações.

Um enorme prazer ter lido esse artigo. Vou retornar.

Renata Camata disse...

Um texto bem denso. Adorei!