Algo que sempre me incomodou, mas
que agora vem reverberando ares desgraçados de infelicidade.
Com a aproximação do julgamento
do mensalão, a imprensa, que possui um papel imprescindível por sua
determinabilidade em um Estado Democrático de Direito, que por muitos é vista
como um 4º poder, não pode excursar-se de seu mister em toda sua plenitude, abdicar de sua responsabilidade em
toda sua inteireza, nem em hipótese alguma descurar-se de uma mínima precisão
na informação que está a democratizar.
O papel desempenhado por esse “4º
poder”, que deve sim sofrer controle, jamais censura, precisa ser mais
responsável e fidedigno com sua importância. A ampla liberdade, que um Estado
democrático lhe confere, e que não deve ser aprioristicamente restringida,
salvo notório dano irreparável e desproporcional previamente percebido, não
pode ser confundida com irresponsabilidade.
Defendo a tese de que
jornalistas, tão apenas jornalistas, são generalistas plenamente capacitados para
democratizar notícias puras. Chamo de notícias puras as que não carregam qualquer
grau de subjetivismo que exijam um maior conhecimento material como comunicador,
já que não possuidores de qualquer expertise
que os habilitem para a opinião.
Lamentavelmente, não é isso que
tenho percebido, e de forma mais intensa a partir do julgamento do mensalão ao
ouvir alguns destemidos “jornalistas puros”. Microfones nas mãos e teclados ao
alcance de quem possui alcance midiático vem servindo em muitas oportunidades
para mal informar. Informar sem qualquer precisão técnica da matéria que
vislumbra abordar é uma irresponsabilidade que não se deve tolerar,
precipuamente quando se tratar de temáticas onde a opinião possa causar algum sério
dano de percepção ao interlocutor-receptor da mensagem.
Algumas notórias figuras da
imprensa nacional, que possuem suas atividades vinculadas a grandes mídias
sociais, têm pisado em terrenos que desconhecem por completo, por suas
formações, e, ao invés de cumprirem seus pujantes papéis de informadores
sociais vêm prestando um desserviço com a má informação, fazendo democratizar
suas ignorâncias e irresponsabilidades.
Não se deve admitir a ideia para
fundamentar referida conduta de que a esmagadora parcela da sociedade é inculta
e incapaz de perceber que está sendo desinformada ou mal informada. Nessa
peculiar alternatividade, vale notar, a desinformação muitas vezes é menos danosa
que a má informação, pois essa pode gerar no interlocutor-receptor da mensagem
uma putativa ideia de conhecimento que o encorajará a tomar posições da qual
não encontra-se devidamente preparado para defender, enquanto o ignorante, consciente
de sua ignorância, tem as oportunidades de se manter na ignorância e não
adentrar em terreno desconhecido, ou inteirar-se para formar suas consciências,
e aí sim, inserir-se opinativamente com certa aptidão e preparo.
Com o julgamento do mensalão, por
exemplo, venho percebendo que certos “jornalistas políticos” vêm se arriscando
em uma seara que definitivamente não lhes pertencem. Em tese, possuem alguma
aptidão para informar opinativamente quando o tema atém-se meramente ao âmbito
da política. Venho percebendo, no entanto, que estes vêm optando por
democratizar suas visíveis ignorâncias jurídicas e pecando gravemente pela má
informação, pela opinião despida de qualquer sustentação jurídica apreciável.
Certos jornalistas vêm dialogando com a sociedade como se experts fossem do campo jurídico sem que na realidade ostentem algo
muito além da completa ignorância nesse mundo de altíssima complexidade e importância
para se marcar posições e conceitos no mundo dos fatos.
Desses, esperaria maior
parcimônia e diria que o menos é mais. A tarefa de informar é um supedâneo
lógico da tarefa de educar e desta forma não pode ser tratada de forma irresponsável, sob
pena de criar-se perigosas percepções sociais equivocadas e autossuficientes em
uma sociedade ainda despreparada para filtrar... Que me perdoem os que se sentiram atingidos, mas vivemos em uma democracia, e nossas opiniões, quando democratizadas, devem trazer o atributo da responsabilidade social, para que nosso quase patológico deficit educacional não seja ardilosamente manipulado segundo interesses de poder. A sociedade democrática tem todo o direito de opinar, a imprensa formal tem o dever de informar com responsabilidade.
4 comentários:
Dizer mais o quê? Nada. Só me resta aplaudir. Um show seu blog e sua crônica!
Muito sagaz! Falou verdade e está de parabéns. Miguel
Você tem razão meu caro. Toda a razão... cabe à imprensa informar. Pena que alguns "jornalistas" não pensem assim.
Sábias palavras ! Meus sinceros cumprimentos ao Ilmo. Leonardo Sarmento. A partir de agora,este blog tornou-se minha fonte preciosa de noticias. SHALOM ! (A): Beatriz Lima
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