21 setembro, 2007

Reflexão...

Tecnicamente, ação é um agir buscando uma finalidade, um resultado. Essa finalidade, porém, pode percorrer caminhos, que poderão ser interpretados quase sempre de mais de uma forma, que na maioria das vezes são excludentes entre si. Quero dizer com isso, que de um mesmo resultado pode-se extrair mais de uma interpretação finalística.
Vejamos alguns fatos para vislumbrarmos o que digo:
O povo brasileiro acusado por muitos, me incluo, como resignado, pode trazer como contraponto o enforcamento de Tiradentes, e talvez por isso a não inclusão no conceito de cidadão a efetiva participação do indivíduo nas decisões de sua história, que não apenas participe através de um voto obrigatório, elevado a categoria de símbolo democrático nacional, ainda que com o famigerado mensalão familia ou esmola família, como preferirem tenha desvirtuado ainda mais tal símbolo, mas sim, através de uma não-omissão, alienada e individualista. Vejam, que para a passividade do povo há uma explicação histórica, que vai além do sono e da ignorância, a morte de Tiradentes, que caso não tivesse morrido de uma forma tão brutal e tivesse conseguido levar sua infindável irresignação social a alguma conquista, poderia ser ele nosso paradigma de reação, e quem sabe com isso não teríamos políticos mais habituados com a ética.
Maquiavel, considerado hoje como a encarnação, o símbolo do amoral, apresentava também facetas esclarecedoras de nossas verdades. Ele trazia a existência de duas Deusas, Virtù, Deusa pagã e Fortuna deusa que formaria o contraposto à Virtù. Esta seria a qualidade do homem, que o capacitaria a realização de grandes obras e feitos, o poder que o homem teria de efetuar mudanças e controlar eventos. Já Fortuna, seria o fatalismo, a sorte do destino, as coisas seriam como deveriam ser, como o destino planejou. Maquiavel virou ícone. Tornou-se leitura obrigatória a todos os defensores de um sistema totalitário, o grande pensador de Napoleão. Talvez se Maquiavel não tivesse logrado tanto êxito na propagação de sua doutrina, os nossos políticos não teriam incorporado tão bem as idéias de Virtù e o povo brasileiro as de Fortuna. Mas vejam vocês como paradoxal são as coisas, Virtù vem de virtude, é o amoral sendo colocado como virtuoso, era assim que deveriam ser os donos do poder, virtuosos. O ser virtuoso para Maquiavel carrearia alguns "atributos", vejam só:
1. Zele apenas por seus interesses; 2. Não honre a ninguém além de você mesmo; 3. Faça o mal, mas finja fazer o bem; 4. Cobice e procure obter o que puder; 5. Seja miserável; 6. Seja brutal; 7. Engane o próximo toda vez que puder; 8. Mate os seus inimigos, e se for preciso mate seus amigos também; 9. Use a força ao invés da bondade ao tratar com o próximo; 10. Pense exclusivamente na guerra.
Ao povo sobraria Fortuna, ainda que em seu significado "celeste", já que em seu significado corrente e prático tenha ficado também nas mãos dos donos do poder...
Como demonstrei, o povo tem na história lados de uma mesma moeda, exemplos a serem seguidos, mas lamentavelmente a "fortuna" nos abarca no seu pior significado é neste que o povo brasileiro se encontrou, embora se um dia deixar de ser um do povo e passar a ter o poder Virtù descerá do reino celeste...

Nenhum comentário: