Essa salutar aprovação é uma
pequena dose de adrenalina que se injeta em favor da desejada transparência
democrática. O pífio argumento de que o voto secreto protegeria o político para
que vote por sua consciência é aleivoso e sem qualquer sustentação.
Político é eleito para
representar os eleitores ou o estado que o elegeu. Não há como cogitar-se
democrático um país que tem suas decisões tomadas por políticos profissionais
sem que a sociedade possa fiscalizar a fidedignidade da atuação de seus
escolhidos. A opacidade política é a arma maior dos Estados despóticos que
reverberam pelo isolamento social das decisões políticas mais importantes. Sem
transparência não se controla moralidades com opacidade se perpetram
impunidades, fato inelutável.
O voto aberto é uma forma de
diminuir os efeitos perniciosos do corporativismo, aqui para que telhados de
vidro não sejam quebrados um par protege o outro e a cumplicidade é formada. É
no voto secreto que se disseminam as corrupções, os tráficos de influências, onde os interesses
dos eleitores, em grande parte conectados ao interesse público, são pulverizados
pelos interesses privados.
Políticos que de forma ardil
dissimulam seus votos para agradar A ou B terão que prestar contas a sociedade
e a quem mais venha contrariar. Ser político é conviver com o múnus público da
transparência. Não se admite em um Estado Democrático de Direito que o
representante de um estado ou de parcela de uma sociedade escamoteie suas
decisões de forma a deixar a sociedade às escuras de um melhor discernimento,
as escuras da consciência de ter escolhido como representante um ser humano ou
um rato de esgoto.
É uma constante luta que a
sociedade deverá travar para reduzir o campo de atuação do sistema que se
utiliza da falta de transparência para escambiar impunidades. O voto secreto é
apenas o granulado de um brigadeiro que deve ser devorado pela sociedade,
digerido com gosto e com aquele sentimento de “quero mais”. Nossa democracia
convive com lacunas que comprometem seu melhor êxito e que devem ser extirpadas
de nosso ordenamento para o seu sadio funcionamento. O ócio social é o fermento
que faz a massa da pizza crescer para que sejam arremessadas em nossas caras
sem que nós possamos identificar os autores do disparo... Essa ignorância que nos
impelem desse sistema sujo e opaco só irá cessar através da luta pelos pilares
da democracia, e uma deles é inelutavelmente o voto aberto.
Sem mais.
4 comentários:
Isso é escrever com categoria. Muito bom! Acompanhando.
Infelizmente os parlamentares brasileiros parecem o BATMAN, se escondem nas sombras, brigam por mandatos em função da imunidade e pregam voto aberto, apenas para cassar seus pares e por pressão popular, nas emendas, DUVIDO, quem quer colocar a bunda na janela pra passarem a mão???
Parabéns pelo texto.
É inevitável comparar nossos parlamentares ao BATMAN, afinal eles vivem das sombras, brigam para entrar em prol de usa imunidade e depois claro, procuram votar escondidos pela cortina do sufrágio secreto (que a gente sabe que de secreto não tem nada, graças a abertura dos votos do placar eletrônico do senado, por exemplo). Eles não tem medo de nós, em absoluto, tem medo deles mesmos.
Sarmento, Enxuto e muito bem escrito. Nada que se possa acrescentar. Prazer!
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