14 setembro, 2012

O ESCALDANTE CALOR DE UMA “PRIMAVERA ÁRABE”

Antes de se adentrar a temática que se propõe discutir, faz-se imperioso acentuar que este que vos fala é agnóstico por opção.
Encontramo-nos em plena era das guerras ideológico-religiosas, sangrentas por essência, ainda regionalizadas, mas com claríssimas tendências expansionistas, em inexorável demonstração que a história é cíclica, que os fatos são repetidos modificados ou não os atores principais.
Outrora, as guerras religiosas apresentavam-se a partir de uma dicotomia, a católica expansionista versus a insurgência protestante. A política, já aquela época, era seu combustível e a fé religiosa era manipulada na incessante busca pelo poder. As grandes potências da época eram aquelas que ostentavam um regime absolutista forte sustentado e apoiado pela igreja santificadora do poder. Em verdade, a igreja revelava-se a grande manipuladora da sociedade por sua fé religiosa, era a verdadeira detentora do poder absolutista. Este foi um período onde sangue era sagrado e “abençoado por Deus” e o Estado só governava segundo as “bênçãos de Deus”.
Hoje, os atores de outrora alcançaram uma maior civilidade, a política já não mais está sujeita as bênçãos divinas e caminham com razoável autonomia, os Estados não mais são fantoches da fé. A igreja Católica e a protestante, que antes faziam o sangue jorrar segundo seus interesses políticos de poder, hoje pregam a paz, distanciam-se ligeiramente da política seguindo razoavelmente a inexorável evolução das sociedades ocidentais globalizadas. Digo ocidentais e explico no decorrer.
Eis que começa a figurar com protagonismo a religião muçulmana, antes detida pela guerra-fria, servil aos interesses das grandes potências da época (USA e URSS). Com o fim da guerra-fria e com o revolucionário poder da globalização, o mundo prosperou, intercambiou-se, cresceu, mostrou-se orgulhoso por todas suas espetaculares evoluções dinâmicas e em profunda depressão em todas as suas sofríveis mazelas retrógradas. Os Paradigmas das sociedades multiplicaram-se e as diferenças antes encobertas desnudaram-se. Com a queda soviética, a China, por exemplo, evitando um mal maior, abandonou seu comunismo arcaico e despótico e deu início ao processo de abertura ao modus capitalista americano, o vencedor, antes que restasse engolida pelo atraso de uma antiglobalização, factível apenas aos regimes ditatoriais ainda existentes.
Não foi isso que se sucedeu em grande parte dos países localizados no oriente-médio dominados pela religião muçulmana. Estes mantiveram-se estagnados em seus modelos políticos onde a religião é o Estado e a sociedade é serviente ao Corão. Por lá, Maomé deixou consignado, entre outras passagens (capítulos ou suras), ser uma obrigação do crente islâmico subjugar os “infiéis”, persegui-los, fazer-lhes “Guerra Santa” (Jihad). O Islamismo é excludente, egocêntrico e cultua o ódio ao ocidente e a tudo que ele representa, para eles os não muçulmanos são os verdadeiros infiéis... O Islamismo não reconhece como amigo o mundo que esteja além dos limites de seu livro sagrado de infinitas interpretações, a depender do objetivo do intérprete. O Islamismo, notadamente os de origem fundamentalista, seguem o Corão inadmitindo, negando as evoluções naturais que o tempo promove nas sociedades, o que está escrito, está escrito e ponto.
É com base nessa percepção estreita que as ditaduras religiosas do oriente se viram atropeladas pela globalização, o novo combustível fundamentador das novas ondas de “sangue sagrado”. O atraso, a fome e a ausência das liberdades mínimas de uma mínima dignidade seriam suficientes fomentadoras do que se denominou “Primavera Árabe”, nome que soa irônico dada a beleza e suavidade de dada estação do ano, embora haja fomento além... É na “Primavera Árabe”, que uma juventude de uma região armada até os dentes sai às ruas em busca de democracia, laicidade, liberdades e emprego.
Mas esta crônica estaria pecando por fundamentais ausência caso já iniciasse seu processo de encerramento, o que o que devo sentenciar, não mereceria perdão. Há um autor que sempre carrega o status de protagonista ou antagonista, à depender do ângulo analisado. Os EUA em seu imperialismo subjugador atacam soberanias sem maiores pedidos de licença, pobre ONU... Existem três alvos norte-americanos que se pode chamar de principais: o primeiro, democratizado ao mundo, que prima pela implantação da democracia em sociedades que sofrem com devastadoras ditaduras em todos os seus consectários, como a corrupção política, a miséria, as guerras civis (...), tudo lindo e quase altruísta. O segundo, também democratizado, seria o combate ao terrorismo em uma luta sempre de difícil enfrentamento pelas armas que o inimigo dispõe, geralmente as vidas de homens, mulheres e crianças ávidas por negociá-las e encontrar a divina paz eterna. O terceiro alvo principal, este ultrassecreto e estratégico, salve Wikileaks, é o verdadeiro combustível dessas intervenções, o petróleo alheio. Soberanias são sumariamente ignoradas e desrespeitadas, mentiras e pretextos são criados, para que intervenções armadas expliquem o inexplicável, expliquem uma paz manchada de sangue preto com gosto e cheiro de petróleo.
São os EUA para o oriente a imagem do ocidente. A religião muçulmana, que lá é o poder, faz jorrar todo o ódio que o verdadeiro muçulmano deve nutrir pelos EUA, o espelho do ocidente. Fica a sociedade muçulmana entre o ódio ao americanismo que prega a religião e as maravilhas que o capitalismo agora globalizado pode propiciar, de realidade bem distante das vividas sob uma ditadura religiosa. É o resumo em parcas palavras do que se alcunhou chamar de “Primavera Árabe”, mas com cara de deserto. Em verdade, há uma luta paradoxal entre os egocentrismos muçulmano e norte-americano, onde a única certeza e a produção de muito sangue. Incertezas? Não faltam, e a maior delas é até onde este sangue espalhará...
Ainda no âmbito do regionalismo conflituoso, um filme tosco de um ébrio alienado pode virar pretexto para uma sucessão de mortes e perseguições, onde política e religião formam uma unidade difícil de se imaginar um dia divorciadas... Portanto, fiquemos com as certezas possíveis até o momento e formemos uma simples equação matemática do mundo em seu sentir mais putrefato:
Fundamentalismo religioso + petróleo + EUA = sangue.
Enfim, parcas flores e muitos espinhos resumem esta paradoxal "Primavera Árabe"...
Curiosidade: Muitos que vivem o dia a dia da "Primavera Árabe" tem sustentado que a ausência do chefe do mensalão no julgamento do STF e as risadas incontidas de José Dirceu foram a gota d'água para que explodisse toda a revolta... Será? Pedindo Vênia as ironias...
Sem mais.

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