01 fevereiro, 2013

A Eleição de Renan Calheiros no Brasil das Mentiras


O Brasil de verdade é o Brasil das mentiras, o Brasil de mentira é o Brasil das verdades. Pois é desta forma, se me fosse dado apenas uma frase para definir o Brasil sob seu espectro poder, assim o definiria.
A significação etimológica do vocábulo “política” inexoravelmente carece de atualidade prática para acompanhar a evolução das relações intersubjetivas. Hoje, lamentavelmente política significa escambo de interesses malversados, promiscuidades ideológicas, escárnios morais, permissibilidades imorais, e assim vai. O sentido é o mais putrefato possível, onde se objetiva a opacidade do moralmente impublicável e a transparência, a publicidade do populismo de fundo mais demagógico e eleitoreiro.
Poderiam interpelar-me sobre o que mudou, se esse já não era o quadro de há muito. Mudou a forma descarada que se defende o indefensável, mudou a permissibilidade que o termo política carreou para sua real significação fática, que passou a aceitar o imoral e o ilegal e engordar como práticas “saudáveis” que alimentam o poder.
Falar da política de hoje não caberia em um, dois ou dez artigos. Falar das práticas de hoje só se faz viável de forma pontual e focada para não se cair na abstração de um objeto indefinido tamanho as possibilidades.
É neste momento que foco no Senado Federal, mais particularmente na eleição de Renan Calheiros para a Presidência da Casa. O Senado Federal, órgão de legitimação popular, um dos símbolos da democracia e um dos protagonistas do nosso Brasil de verdade a que me referi acima.
Politicamente falando neste Brasil de verdade sujeitos como Renan, da linhagem de Sarney, são inelutavelmente figuras ideias para o nosso modelo de República Federativa carcomida pelos motivos que vão um pouco além das máximas obviedades. Já figuras raras em meio ao antro como a do Senador Pedro Taques, que como formação coloca o interesse público e o ordenamento jurídico à frente dos conluios, da política, certamente não se perfaz a opção ideal ao nosso Brasil de verdade. Pedro Taques é o que chamam de político pouco flexível, um membro ligado a estrutura do judiciário pouco adequado à malemolência moral praticada no legislativo, e por isso desinteressante ao poder-situação. Regra, que figuras como Lewandowski e Tóffoli só fazem confirmar a existência de exceções.
Por escrutínio secreto de seus pares Renan foi o escolhido pela situação como resposta a proposta de moralidade política proposta pelo Supremo Tribunal Federal. Um profissional da política calejado, apto a descumprir o que for necessário na defesa dos interesses que lhe proporcionarão a “mais valia” mais vantajosa.
Entre indícios arquivados e suspeições de notórias verossimilhanças, o novo presidente do Senado Federal tem contra si as acusações de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso, protocolizadas no STF. Algo com decisão prolatada? Não neste Brasil de verdade, que caminha como cagado e caga como um guepardo, onde autoridades ainda parecem portar status supraconstitucional, até que por pressão da sociedade retornam ao âmbito da constitucionalidade e passem, se ainda vivos, a responder por suas políticas desviadas. Julgamento no Supremo? Só se a relatoria não coubesse ao senhor Lewandowski, que sentará e dormirá profundamente em cima do processo no interesse do poder, como já se viu...
Fato é, que denúncias baseadas em notoriedades de crimes de responsabilidade, improbidades administrativas e demais repercussões penais e cíveis contra o erário e contra a sociedade não são suficientes para inibir que votos secretos elejam o representante ideal do Brasil de verdade.
Aos inconformados cabe o barulho social, que vide mensalão mostra-se capaz de mover montanhas se do lado de nossa ordem jurídica vigente. Defendo que cabe também aos inconformados ativistas o uso do instrumento democrático da Ação Popular, onde qualquer cidadão está legitimado extraordinariamente representando a sociedade pugnar pela moralidade.
Vale lembrar que no Brasil de mentira, o Brasil ideal, o cargo político de Presidente do Senado federal deveria ser ocupado por um representante de notória probidade, capaz de passar credibilidade à instituição e à sociedade. Vence, no entanto, as razões do Brasil de verdade, que elege quem mostre capacidade de negociar favores de poder sem escrúpulo subjetivo e sem parâmetros de legalidade capazes de intimidá-lo.
Neste período histórico que está propiciando a sociedade o poder da palavra, favorecida pelos poderes da internet, quando leigos, ignorantes jurídicos se sentem com mais conhecimento que os próprios ministros do STF para analisar os autos processuais, para não só opinar democraticamente na base do achismo, mas sim para conferir ares críticos peremptórios aos seus devaneios ideológicos, diríamos estrábicos para nos manter na tênue linha do politicamente correto, é o momento dos mais discernidos da sociedade tomarem a rédea na formação de uma sociedade organizada, uma espécie de poder paralelo do bem, um poder de uma democracia-cidadã-participativa forte o suficiente para fazer cumprir a norma fundamental do art. 1º, par. único de nossa Carta Maior, que proclama que todo poder emana do povo.
A sociedade possui os instrumentos, mas não aprendeu a usá-los. O dia em que esta verdadeira “onda renovatória” se fizer presente na sociedade o Brasil saíra do campo da eterna promessa e romperá os obstáculos de poder deste Brasil de verdade para construir um Brasil de verdades. Educação é do que precisamos.

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