O Brasil de verdade é o Brasil
das mentiras, o Brasil de mentira é o Brasil das verdades. Pois é desta forma,
se me fosse dado apenas uma frase para definir o Brasil sob seu espectro poder,
assim o definiria.
A significação etimológica do
vocábulo “política” inexoravelmente carece de atualidade prática para
acompanhar a evolução das relações intersubjetivas. Hoje, lamentavelmente
política significa escambo de interesses malversados, promiscuidades ideológicas,
escárnios morais, permissibilidades imorais, e assim vai. O sentido é o mais
putrefato possível, onde se objetiva a opacidade do moralmente impublicável e a
transparência, a publicidade do populismo de fundo mais demagógico e eleitoreiro.
Poderiam interpelar-me sobre o
que mudou, se esse já não era o quadro de há muito. Mudou a forma descarada que
se defende o indefensável, mudou a permissibilidade que o termo política
carreou para sua real significação fática, que passou a aceitar o imoral e o
ilegal e engordar como práticas “saudáveis” que alimentam o poder.
Falar da política de hoje não
caberia em um, dois ou dez artigos. Falar das práticas de hoje só se faz viável
de forma pontual e focada para não se cair na abstração de um objeto indefinido
tamanho as possibilidades.
É neste momento que foco no
Senado Federal, mais particularmente na eleição de Renan Calheiros para a
Presidência da Casa. O Senado Federal, órgão de legitimação popular, um dos
símbolos da democracia e um dos protagonistas do nosso Brasil de verdade a que
me referi acima.
Politicamente falando neste
Brasil de verdade sujeitos como Renan, da linhagem de Sarney, são
inelutavelmente figuras ideias para o nosso modelo de República Federativa carcomida
pelos motivos que vão um pouco além das máximas obviedades. Já figuras raras em
meio ao antro como a do Senador Pedro Taques, que como formação coloca o
interesse público e o ordenamento jurídico à frente dos conluios, da política,
certamente não se perfaz a opção ideal ao nosso Brasil de verdade. Pedro Taques
é o que chamam de político pouco flexível, um membro ligado a estrutura do
judiciário pouco adequado à malemolência moral praticada no legislativo, e por
isso desinteressante ao poder-situação. Regra, que figuras como Lewandowski e
Tóffoli só fazem confirmar a existência de exceções.
Por escrutínio secreto de seus
pares Renan foi o escolhido pela situação como resposta a proposta de
moralidade política proposta pelo Supremo Tribunal Federal. Um profissional da
política calejado, apto a descumprir o que for necessário na defesa dos interesses
que lhe proporcionarão a “mais valia” mais vantajosa.
Entre indícios arquivados e
suspeições de notórias verossimilhanças, o novo presidente do Senado Federal
tem contra si as acusações de peculato, falsidade ideológica e uso de documento
falso, protocolizadas no STF. Algo com decisão prolatada? Não neste Brasil de
verdade, que caminha como cagado e caga como um guepardo, onde autoridades
ainda parecem portar status
supraconstitucional, até que por pressão da sociedade retornam ao âmbito da
constitucionalidade e passem, se ainda vivos, a responder por suas políticas
desviadas. Julgamento no Supremo? Só se a relatoria não coubesse ao senhor
Lewandowski, que sentará e dormirá profundamente em cima do processo no
interesse do poder, como já se viu...
Fato é, que denúncias baseadas em
notoriedades de crimes de responsabilidade, improbidades administrativas e
demais repercussões penais e cíveis contra o erário e contra a sociedade não são
suficientes para inibir que votos secretos elejam o representante ideal do
Brasil de verdade.
Aos inconformados cabe o barulho
social, que vide mensalão mostra-se capaz de mover montanhas se do lado de
nossa ordem jurídica vigente. Defendo que cabe também aos inconformados
ativistas o uso do instrumento democrático da Ação Popular, onde qualquer
cidadão está legitimado extraordinariamente representando a sociedade pugnar
pela moralidade.
Vale lembrar que no Brasil de mentira,
o Brasil ideal, o cargo político de Presidente do Senado federal deveria ser
ocupado por um representante de notória probidade, capaz de passar credibilidade
à instituição e à sociedade. Vence, no entanto, as razões do Brasil de verdade,
que elege quem mostre capacidade de negociar favores de poder sem escrúpulo
subjetivo e sem parâmetros de legalidade capazes de intimidá-lo.
Neste período histórico que está propiciando
a sociedade o poder da palavra, favorecida pelos poderes da internet, quando
leigos, ignorantes jurídicos se sentem com mais conhecimento que os próprios
ministros do STF para analisar os autos processuais, para não só opinar
democraticamente na base do achismo, mas sim para conferir ares críticos
peremptórios aos seus devaneios ideológicos, diríamos estrábicos para nos
manter na tênue linha do politicamente correto, é o momento dos mais
discernidos da sociedade tomarem a rédea na formação de uma sociedade
organizada, uma espécie de poder paralelo do bem, um poder de uma
democracia-cidadã-participativa forte o suficiente para fazer cumprir a norma
fundamental do art. 1º, par. único de nossa Carta Maior, que proclama que todo
poder emana do povo.
A sociedade possui os
instrumentos, mas não aprendeu a usá-los. O dia em que esta verdadeira “onda
renovatória” se fizer presente na sociedade o Brasil saíra do campo da eterna
promessa e romperá os obstáculos de poder deste Brasil de verdade para construir
um Brasil de verdades. Educação é do que precisamos.
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