17 setembro, 2012

NÚCLEO POLÍTICO DO MENSALÃO COMO DIVISOR DE ÁGUAS DE UM PÚBERE ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO


Hoje, dia 17/09/2012, poderá vir a ser conhecida como data inaugural de uma nova consciência social, política e de poder neste país. Hoje, verossímeis brocados populares, como: “o crime compensa”, “só é condenado a pena reclusão o politicamente desprestigiado ou o pobre ladrão de galinhas”, poderão ganhar ao menos o prestígio de uma relativização, perdendo seu caráter de uma verdade quase que absoluta e irrefutável.
Hoje poder-se-á dar-se início a um período de revitalização para um processo de credibilidade institucional no país estereotipado pela impunidade. Lamentavelmente a credibilidade de uma função de poder custará o esfacelamento moral de outra por sua própria torpeza, por seu modus operandi antidemocrático, despótico e criminoso. A generalizada putrefação de uma ideologia de dominação vil deverá ser veementemente negada, in totum, por quem possui a incumbência constitucional para tal mister. Iniciar-se-á um verdadeiro embate entre os atores principais de nossa República, onde, para que o “bem” saia vencedor e triunfante, o mal deverá ser sumariamente aniquilado por sua essência apodrecida e carcomida.
Em verdade, ter-se-á um embate onde de um lado figurará um partido que criou ramificações em praticamente todos os setores estratégicos de dominação político-social, que encontra-se muito além do executivo corrompedor ou do legislativo corrompido, alcançando toda a estrutura de funcionamento da máquina estatal pulverizada a seu favor. Do outro, ainda com parcial independência funcional e credibilidade a ser reafirmada para alguns e conquistada para outros, a função judiciária, que terá em sua instância maior, constitucional, o encargo de aí sim, reafirmar nosso Estado Democrático de Direito, segundo a essência de nossa Carta Maior.
Estará fadada esta sessão plenária e as próximas que hão de vir a um duplo julgamento, o de uma quadrilha organizada de poder, legitimada pelo voto popular e o do Supremo Tribunal Federal. Até o momento, não se julgou o poder político manipulador e estrategista, mas tão apenas os atores secundários, que colaboraram na execução do esquema. Para o esquema poder-se-ia alcunha-los de meros bois de piranha, caso o núcleo político e legítimo interessado reste inocentado ou condenado de forma insuficiente.
É nesta emblemática semana que veremos os ministros Dias Toffoli do PT e Lewandowski, amigo íntimo de Lula, ambos, que por suas estreitas ligações emocionais deveriam ter se declarados impedidos para o julgamento, mas que optaram por macular irreparavelmente suas imagens na defesa do crime organizado constituído de poder. Teremos a oportunidade de ver ministros que utilizam de suas prerrogativas para a manutenção do Estado Democrático de Direito, corroborando suas independências funcionais e votando por seus livres convencimentos motivados. E nos será oportunizado sanar algumas dúvidas quanto alguns ministros que se mantém na esfera da mais completa incógnita quanto as suas persuasões.
Este julgamento do mensalão, consabido está, não se revelará suficientemente reparador, nem no aspecto moral nem no criminal. Independente das reprimendas aplicadas, precipuamente ao núcleo político que se está na maior expectativa, a chefia de todo esquema, seu manipulador político, escambiador dos favorecimentos políticos, seu grande orquestrador e mentor Lula da Silva restou blindado pelo nobre senhor PGR, que prevaricou e cedeu a fortíssimas pressões.
Nessa peculiar questão temo firmemente pelo arquivo vivo lançado às piranhas. Marcos Valério, com seu “valerioduto”, é uma bomba relógio que certamente, até o momento, está a se sentir profundamente desprestigiado pelo esquema petista. Marcos Valério pode-se dizer seja um suprapartidário membro do esquema, e por isso pôde se observar o mais completo descuidado do PT por sua inocência. Nem mesmo Tóffoli do PT e Lewandowski o aliviaram, ao contrário, condenaram-no na lógica do “boi de piranha”, já que a absolvição de todos os envolvidos seria algo que acirraria ainda mais a necessidade de impeachment de certos ministros desviados de suas funções institucionais. É neste sentir, que não é nada desarrazoado ventilar-se a transformação de um arquivo vivo em morto... A “biografia” do Partido dos Trabalhadores corrobora nesta linha. Como não lembrar do prefeito Celso Daniel, um arquivo morto que muito sabia, bem menos que Marcos Valério...
Fato, que Lula não pode manter-se incólume por todas as suas desconstruções éticas e práticas criminais. Deve a sociedade cumprir o seu papel e movimentar-se para que este bestial escroque reste denunciado, ainda que tardiamente, e possa sair do âmbito de nevrálgico participante fático do esquema e tome seu lugar de direito ao ver sol nascer quadrado... Será possível sonhar com essa maturidade de República Democrática de Direito no estágio que ainda nos encontramos?
A sociedade terá um papel fundamental para reafirmar em que estágio nos achamos. Em favor do Estado Democrático de Direito temos a parcela pensante da sociedade, de extensão diminuta se comparada à parcela intelectualmente e/ou moralmente desnutrida, mas com a força que nos faz diferentes dos outros seres vertebrados. É nessa lógica racional que devemos agir e acreditar.
Sem mais...

3 comentários:

Clovis disse...

Parabéns pelo seu texto. Realmente, o julgamento do núcleo político poderá ser um divisor de águas na justiça do nosso Brasil

Carlinha disse...

Dizer o q desse post, Sarmento?
Vc é "o cara"!

Parabénsssss!

Márcia (Bahia) disse...

Seus artigos são uma pancada no estômago. Você deveria estar sendo lido por boa parte da sociedade que precisa de um sacode.

Você escreve em quais mídias mais? Vejo cronistas em revistas famosas que não alcançam o dedinho mindinho dos seus pés.

Salve!!