24 setembro, 2012

UMA DISCUSSÃO SEM "CONSENSUS". O ISLAMISMO, A DEMOCRACIA QUE FALA E A DEMOCRACIA QUE MENTE


O ocidente a partir do impulso norte americano procura “com as armas brancas da desinformação” opacar determinadas realidades, surrupiar facticidades para eficazmente confundir melhores discernimentos. E vejam o porquê...
Os EUA convivem em um período essencialmente conturbado. Economia protecionista buscando recuperação e política em máxima ebulição às vésperas das eleições, com republicanos ávidos por um “salvador” deslize democrata.
Tudo que os democratas precisam evitar neste momento é serem chamados para se posicionarem sobre temáticas polêmicas que gerem polarização. Obama cresceu nas pesquisas, mas está longe da “zona de conforto” de uma vitória garantida. Um mau pronunciamento ou uma decisão infeliz pode modificar o quadro eleitoral e pulverizar sua vantagem pouco confortável em favor dos republicanos. É nesta perspectiva de “paz, calmaria, segurança e esperança” que trabalha a campanha democrata, e mais uma vez a verdade cede a sobrepujantes razões de ordem políticas...
Ao que tudo indica ser a real verdade dos fatos, esta em nada se assemelha a apresentada à mídia e pela mídia. E sobre o que exatamente trato após este introito, que algo se falou e quase nada se explicitou? Qual a problemática que se apresenta? Pois bem, Chistopher Stevens, até o evento morte, embaixador americano na Líbia, não morreu vitimado pelo filme bufão ofensor da crença Islã que pateticamente escrotizava a figura de Maomé, esta não foi a causa adequada de sua morte como o ocidente insiste em bradar aos quatro cantos, foi sim, vitimado, por razões políticas, pelo implacável terrorismo!
Combater o terrorismo requer atitudes enérgicas e polarizantes de opiniões, semelhantes ao viés imperialista/intervencionista norte-americano que a muitos incomoda, inclusive eleitores que entendem custar muito caro aos cofres americanos as vidas sacrificadas ao desrespeitarem soberanias alheias a título de se impor “democracia”...
Sem muito me alongar partilho a ideia que democracia não se impõe, se conquista pela sociedade, e é em exato, nesta seara, que este modus agendi americano pode comprometer internamente uma eleição colocando a Casa Branca no paredão de fuzilamento da opinião pública, reverberando o ódio de outras soberanias. É um perigo eleitoral ligar a morte de um cidadão americano à política de intromissão praticada pelos Estados Unidos da América...
A “democracia” na Líbia foi obtida através das forças da OTAN, momento que se devem ler EUA, que bombardearam uma Líbia ditatorial, mas que havia ordem, encontrava-se unida e funcionava. A política da OTAN/EUA expurgou o ditador Kadhafi e matou-o com seu rebento com requintes de máxima crueldade espetaculosa em uma retrógrada leitura da Lei de Talião, já que os rebeldes líbios nada mais são do que cidadãos armados que foram catapultados a um poder anárquico pelo imperialismo americano do governo Obama...
À priori, aos mais desavisados, não haveria recalcitrância em se caracterizar a expulsão de uma ditadura como um gesto quase altruísta norte-americano. De fato! Mas o que vem depois? Disseram que viria a democracia e com ela a liberdade passada nos filmes americanos, não uma anarquista guerra civil debaixo de “bombas e balas”, nada doce, diga-se de passagem. Faço lembrar, que não basta a morte de um ditador seguida de pleito eleitoral para se implantar uma democracia... Imaginemos colocarmos nas mãos de um sujeito criado em meio ao terror uma bomba e falar: agora essa bomba é sua, faça bom uso dela e busque a democracia. A guerra anárquica na Líbia toca mais ou menos neste grave tom, onde os orquestrantes foram os EUA, experts intervencionistas de soberanias...
A cada ação terrorista voltada contra um cidadão americano traz-se imediatamente à memória Yankee das famílias ceifadas por dólares sujos de petróleo, que os governos estadunidenses impeliram os seus a buscar. Intervenções que definitivamente não lhes pertenciam, que traziam como pano de fundo e real fomentador a busca de um combustível político-econômico, o “sangue negro” prospectado de almas perdidas. Nasce aí o ódio patológico que boa parte do mundo nutre pelos norte-americanos, em especial os povos muçulmanos, que já deixam a maternidade com um bonequinho do “Tio San” faltando-lhe a cabeça... O terrorismo não é uma ação isolada de “bandoleiros” como seria a revolta por um filme malversado, mas uma ação planejada contra um Estado americano interventor, passível de uma estória a ser reinventada em época eleitoral como outras históricas que foram reescritas e tornadas verdades. É com base nisto, que qualquer notícia publicada do ocidente, que tenha como fonte de interesse os USA, deve ser analisada cum granus salis, com máxima parcimônia em fator multiplicador pelos que procuram a verdade real e não se contentam com a Hollywoodiana. É nesta esteira, das grandes produções do passado, é que o terror islâmico aplica a lógica dos filmes de bang-bang oferecendo recompensas ao colocar cabeças a prêmio, "PROCURA-SE!
Mustafá Abu Shagur, acaba de ser eleito mediante assembleia nacional ficando a frente apenas dois votos de seu opositor, líder da aliança dos liberais. Terá a atribuição de formar o próximo governo de transição da Líbia que sucederá Al-Kibe. Abu Shagur era um opositor de Kadhafi, que se exilou na década de 80 nos EUA e por lá estudou.
Para dar fim a esta pequena jornada, algo sensivelmente tormentoso que literalmente não quer calar: Quais seriam os limites do direito de liberdade de expressão? Este já se revela de difícil delimitação no âmbito interno de um Estado. Se formos considera-lo na relação entre distintas soberanias, as dificuldades se multiplicam, pois cada cultura possui seu limite tolerável pré-estabelecido. Se faticamente considerado entre países de culturas e religiões díspares, como se apercebe entre países laicos e confessionais ortodoxos, um consenso parece ser algo que vai além da utopia, aproximando-se da inviabilidade. E como fazer? Como respeitar-se os sentidos mais ortodoxos restringindo liberdades aos que constitucionalmente conferem a liberdade de expressão de forma ampla e irrestrita como base democrática? Não sei se a simples aplicação do princípio orientador da razoabilidade de forma casuística será capaz de colmatar uma lacuna sem início e fim delimitáveis...
Difícil compreender que o paradigma comportamental global de liberdades quando houver o envolvimento de alguma ortodoxia unilateral possa ter por base o claustrofóbico islamismo. Como aceitar que a violência extremista do terror Islâmico cale as liberdades de expressão das democracias? As democracias devem punir os excessos, mas jamais impelindo um gritante silêncio de vozes e manifestações, sob pena de não estar se tratando mais de democracia. A "islamofobia" pode gerar restrições a plena democracia?
A reflexão se faz imperiosa.
Sem mais.

2 comentários:

Raul disse...

Caro,

Um competentíssimo desenho dessa problemática. Onde mais você escreve? Realmente sua forma de escrever e o conteúdo apresentado no seu blog é empolgante e raríssimo de se ver mesmo nas grandes mídias, se é que já vi. Meus parabéns e aplausos pela qualidade.
Sou historiador e um leitor compulsivo, por isso me sinto bem leal com essa constatação.

Anônimo disse...

Muito bom! Nada a acrescentar... Bela aula.