Em Lucas 23.34 dizia Jesus: Pai, perdoai-os,
porque não sabem o que fazem... Até onde se sabe, Jesus não está reencarnado, e
de antemão, não dou qualquer credibilidade ao folclórico “Inri Cristo” midiático... É nesse momento, que vozes devem bradar
para pontualmente assumir a posição de Jesus na Terra rememorando seus dizeres,
acreditando que estarão previamente perdoados por qualquer pecado de
parafraseamento, se é que é pecado...
O Senado aprovou o retorno da
vetusta obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão,
um retrocesso que não deve em hipótese alguma ser corroborado pela Câmara dos
Deputados, que funcionará como Casa revisora.
O jornalismo talvez seja a maior
vitrine das liberdades de expressão e opinião inserido em uma profissão, que
por lógica deveria ser menos do jornalista e mais do cidadão. Estas liberdades não
podem ficar corporativamente reservadas a uma classe de generalistas tocada
feito gado e sujeita ao bel prazer de interesses oportunistas, já que “jornalistas
puros” são despidos da necessária expertise
para se imiscuírem em temáticas além de suas formações, despreparados para
emitir opiniões próprias balizadas, de conceituar, filtrar as obtidas de outros
campos de conhecimentos alienígenas, fato lamentavelmente aferível diariamente
nas pequenas e grandes mídias... Refere-se aqui aos verdadeiros jornalistas
focas, um real perigo para a sociedade quando ousam ultrapassar o limite de seu
quadrado, pois pior que não ser informado é ser mal informado em seu direito
constitucional de informar-se...
Informar mal é criar na sociedade
monstrinhos autossuficientes imersos na profundeza de suas ignorâncias, cheios
de opiniões e arrogâncias bem próprias dos que pensam tudo saber no mais
abissal engano... Isso se revela um perigo! A liberdade de opinião é do
cidadão, é certo, a responsabilidade com esta também. O perigo é quando se coloca um cidadão despreparado (jornalista ou não) respaldado pela credibilidade de uma grande empresa para alcançar a todos com
sua voz (em sentido amplo). O direito de expressão e opinião deve pertencer a
todos, para que desse todo se escolham os mais qualificados e aptos para
expressá-la com qualidade e responsabilidade nos grandes meios de comunicação,
que consabidamente contam com maior visibilidade e credibilidade perante a
sociedade, portanto grandes formadores de opinião. A imprensa, por vezes, pode não ser isenta quando opina, não apenas noticiando, nesta a isenção deve ser buscada. Pode ainda cumprir um papel manipulador da opinião pública por suas próprias razões ou por razões de terceiros, nesta última hipótese estará manipulando indiretamente por estar sendo manipulada, reflexo dos irresponsáveis "focas" que adentram por terrenos desconhecidos...
Das TVs abertas às fechadas somos
premiados por pérolas de “jornalistas puros” que se aventuram em opiniões a
partir do pio de algum pinto que ouviu não se sabe onde... Em época de mensalão
vem se percebendo um show de ignorâncias jurídicas partidas dos jornalistas
focas caras de pau, sempre comunicadas com um ar de veracidade que nem sempre
ostentam. “Jornalista político” dando pitadas em assuntos jurídicos como
verdades indeclináveis, como se política e direito fossem assuntos de mesma
base intelectiva, é habitual. Com economia, entre outras temáticas carecedoras
de conhecimento específico, o panorama também não se afasta dessa perigosa
realidade, a do leigo opinando por de trás de uma potente voz midiática para
milhões de outros leigos sobre o que desconhece por formação. Um arquiteto querer escrever sobre especialidades médicas é mais ou menos o que "jornalistas focas" irresponsáveis ainda fazem por aí. Quer-se dizer, que jornalista não conhece com profundidade direito, medicina, arquitetura, engenharia além do fato cru a ser noticiado, informado... Quem promove textos de opinião sobre algo carrega o ônus de duas responsabilidades, uma pessoal (do opinante) e outra social (com relação a veracidade e qualidade do que divulga a sociedade).
Em blogs e sites neste imenso
mundo on-line que se formou, os
sustos são ainda mais constantes e intensos. As redes sociais reproduzindo em
progressão aritmética asneiras da mais pura atecnia cognitiva como a derradeira
cocada do deserto, apenas pelo "jornalista foca" encontrar-se nas corporativas grandes mídias, e
por isso, e só por isso, contar com o prestigio e credibilidade que essas
grandes marcas dispõem perante a sociedade. Estes opinam, e “polianamente” a sociedade passa a compartilhar abobrinhas sem qualquer profundidade, ou quando com, acabam por defecar ideias
desinformadoras tendentes ao engano a terceiros. Pratica-se aquela velha
história de quem tem o poder das mídias possui a máquina da manipulação: Eu
finjo que lhe informo e você acredita que está informado...
Só quem está a agradecer mais
essa desventura do Senado são os jornalistas que temem perder seus lugares nas
empresas que buscam informar com excelência, que estão dispostas a gastar mais
para informar e opinar com qualidade, já que a mão de obra especializada é mais
cara de fato. Discussão não há, que há sim mercado para os jornalistas focas,
podem trabalhar como âncoras de um jornal, com edições de matérias e notícias,
com a produção de notícias puras ou que não requeiram a expertise de outra área
específica de conhecimento, assessoria de imprensa, entre outras áreas técnicas
que o jornalismo se propõe a formar.
O que não se concebe é o
corporativismo retirar a liberdade de expressão de quem se qualificou para se
expressar com qualidade sobre determinadas temáticas para reservar mercados
impenetráveis para quem não possua qualificação para nele figurar. “Cada um no
seu quadrado” é o título de uma música tosca de funk, mas servível para
ilustrar este modo tosco que se busca proteger...
O cansaço de acompanhar festejos
e adorações explícitas a jornalistas de grandes mídias, que nada avançam além
das óbvias superficialidades e posam de verdadeiros popstars da comunicação reflete a inversão de valores que há muito embriaga
e embarga este país. Este que vos fala não quer crer, mas deve sim crer a partir
da realidade fática, que o reconhecimento de um trabalho premie as
simploriedades argumentativas devido ao baixíssimo grau intelecto-cultural da
sociedade. Este que vos fala, também convive com um diário processo de
autoengano, auto argumentando por honestidade intelectual com quem se comunica,
que o mais importante é informar sem menosprezar o interlocutor, que
democratizar cultura continua a ser disseminar inteligências, ainda que por
muitos incompreendido e não festejado. Vender fofocas, belas bundas e
superficialidades temáticas não requer expertise, é mais barato e vende muito
mais. Engodar a sociedade sempre foi a prática habitual e mais lucrativa escolhida
pelos que possuem o poder, seja de Estado, seja paralelo, seja da
comunicação... A alienação coletiva alimenta a omissão e o desinteresse pelos
temas de interesse.
Não deveríamos ter por base a
patológica desnutrição cultural da sociedade para fundamentar essa espécie de
corporativismo, sob o pálido argumento que a maior parte da população sofreria
do analfabetismo funcional e por isso desnecessário caminhar muito para além
das obviedades uLulantes. Seria esta
uma premissa perversa e de certa forma discriminatória, que fatalmente geraria
uma conclusão indesejada e malversada. Fala-se no tempo condicional, o que, em
verdade, ainda se vislumbra como realidade, fruto de uma herança maldita que o
Supremo tardou por extirpar e o Senado, sob o lobby das focas amedrontadas
tenta fazer ressuscitar... Educação e informações qualificadas são as bases
para o desenvolvimento em todos os seus aspectos, econômico, político-social,
moral e organizacional.
Confia-se que a Câmara se
apresente mais democrática e melhor orientada no sentido de que retrocessos
devem ser evitados e que se caminha para frente no espírito dos princípios de
nossa Constituição-Cidadã, sem retrocessos que invalidem o imponderável avanço do
Supremo de inelutável interesse social... Não explorei no presente, a decisão do Supremo que por diversas vezes mencionei, que entende essa restrição a liberdade de expressão como inconstitucional por ofensa a cláusula pétrea que tutela direito fundamental, na forma do art. 60 par. 4º da CRFB. Optei pela argumentação em seu sentido mais lógico afastando-me propositalmente do tecnicismo jurídico para que esse artigo alcance boa parte da sociedade.
Não posso porém deixar de firmar, que atuou o Senado Federal temerariamente em uma espécie de burla a decisão do Supremo, que entendeu a exigência do diploma por inconstitucional. Não há vedação para que uma nova lei nova venha a disciplinar algo que o Supremo declarou inconstitucional, porém não é o melhor proceder, já que o Supremo é o guardião da Constituição... Vale refletir.
Não posso porém deixar de firmar, que atuou o Senado Federal temerariamente em uma espécie de burla a decisão do Supremo, que entendeu a exigência do diploma por inconstitucional. Não há vedação para que uma nova lei nova venha a disciplinar algo que o Supremo declarou inconstitucional, porém não é o melhor proceder, já que o Supremo é o guardião da Constituição... Vale refletir.
Sem mais...
3 comentários:
Uma aula de artigo, e não acredito que os bons jornalistas fiquem contrariados com sua exposição, já os maus,
Aqui fala um jornalista.
Interessante que a discussão toda no congresso é inconstitucional. O Supremo Tribunal já estabeleceu que a exigência de diploma viola a liberdade de expressão. A liberdade de expressão é cláusula pétrea da Constituição, que segundo o artigo 60 parágrafo 4 não pode ser objeto de alteração, nem mesmo por emenda constitucional.
Corretíssimo Felipe. É aquela batida questão jurídica de que o núcleo da clausula pétrea, sua essência, não pode ser reduzido, apenas ampliado... Por se tratar de uma explicação essencialmente jurídica abdiquei de explorá-la para tornar o artigo um pouco mais acessível.
Prazer,
Leonardo Sarmento.
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